Meu artigo publicado hoje (29/9/2011) no O POVO.

"O diabo do jogo", de Hélio Rôla

Os relegados da Copa
Plínio Bortolotti

O Brasil, que desponta no cenário internacional com direito a dar pito nos países mais poderosos do mundo – como fez a presidente Dilma Rousseff em seu discurso na ONU – mostra sinais de capitulação vergonhosa à Fifa a troco de um torneio de futebol. Um campeonato importante, a Copa do Mundo, mas nada que justifique o servilismo de suspender leis para se ajustar às exigências do sr. Joseph Blatter.

Duvido, caso se dê um breque às exigências descabidas, o todo-poderoso terá coragem de retirar a Copa do Brasil.

A Lei Geral da Copa, enviada pelo Executivo ao Legislativo, contém itens que suspendem dispositivos legais, contrariam artigos do Estatuto do Torcedor, como a meia-entrada para idosos e aqueles que obrigam a quem tenha o mando do jogo a responder pela segurança e possíveis prejuízos decorrentes do evento. (A meia-entrada para estudantes, consignada em leis estaduais, também será proibida.)

Além disso, haverá multa ou pena de reclusão (três meses a um ano de detenção) a quem “reproduzir, imitar ou falsificar” os símbolos oficiais da entidade. Os humoristas que se cuidem.

E, como se diz, além da queda, coice. Uma das justificativas para mobilizar esforços pela Copa eram as obras de infraestrutura, que ficariam como “legado” ao povo brasileiro. Mas os “responsáveis” já estão falando em utilizar a estrutura atual, sem contar com as novas obras. Ou seja, a herança da Copa, principalmente para a população mais pobre (que não vai conseguir nem chegar perto dos estádios devido ao preço dos ingressos), também vai para o beleléu. (E o que não for, as “remoções” cuidarão de pôr essa gente no seu lugar.)

Em lugar das obras de mobilidade, uma ideia brilhante: as cidades sedes ficam autorizadas a decretar feriado nos dias de jogo, para que a estrutura existente suporte o movimento adicional.

O que sobrará, então? A festa para os afortunados que poderão assistir aos jogos nos estádios?