Meu artigo publicado na edição de hoje (13/10/2011) do O POVO.
Quem são os lunáticos?
Plínio Bortolotti
Faz um ano fui surpreendido por discurso do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), na rádio Senado, dizendo ele algo que eu nunca ouvira: defendia o “decrescimento”, atribuindo alguns dos principais males por quais passa o planeta – e as pessoas – ao crescimento excessivo economia.
Escrevi texto sobre o assunto, Decrescimento feliz, que foi lido por pelo menos uma pessoa: esse leitor recomendou-me o livro Pequeno tratado do decrescimento sereno, de Serje Latouche, sobre o qual também escrevi artigo neste espaço.
Ambos, o senador e o economista francês, alertavam que o assunto ainda era muito novo, e seu alcance não ia além dos muros das universidades europeias. Mas o debate está avançando.
Leio no portal da BBC Brasil, que abriu um fórum com o título “O capitalismo fracassou?”, no qual ouve os mais diversos estudiosos sobre o assunto, matéria com Tim Jackson. Professor da Universidade de Surrey (Inglaterra), ele escreveu o livro com o título (traduzido) Prosperidade sem crescimento: economia para um planeta finito, no qual diz ser preciso “abandonar o mito do crescimento infinito”.
O crescimento econômico excessivo e sem precedentes na história, diz ele, está “em desacordo com a base de recursos finitos e o frágil equilíbrio ecológico” do planeta, do qual a humanidade depende para sua sobrevivência.
“Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim.”
O professor sabe que questionar o crescimento “é visto como um ato de lunáticos, idealistas e revolucionários”, mas reafirma o fracasso do “mito” do crescimento: “Fracassou para os dois bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia; fracassou para os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência”.
Caro Plínio, também estou lembrado deste mesmo discurso do senador Cristóvam, ou alguma menção sobre o tema, e lembro-me da sensação de estranheza que causou-me.
No entanto, vindo de quem era a sugestão do “decrescimento”, dei o beneplácito da dúvida em não ser uma estratégia voltada para o marketing político, e fui somando esta a mais outras palavras do senador Cristóvam, para mim um incompreendido de nosso tempo.
Não conheço o livro de Serje Latouche. Confesso que vou procurar, e de antemão, sei que irei ler com muitos preconceitos, tomarei notas de tudo o que vou refutar, mas não tenho o menor constrangimento em mudar de opinião ou de dizer: “sim, pensei errado por muito tempo”.
Penso, que as ideias que nos incomodam é que nos amadurecem, como essas que tanto escuto do senador Cristóvam. Quem dera existissem mais vozes assim.
Forte abraço.
Caro Rodrigo,
Caso queira enviar seus comentários, poderia postá-lo no blog para incentivar o debate.
Agradeço pela leitura e comentário,
Plínio
Oi, Plínio… Continuo lendo, com muito interesse, essa discussão em torno do “Decrescimento” e outros/novos indicadores da Pública Pública (Felicidade Interna Bruta, no campo da Governança do Butão, e Felicidade, como Princípio Constitucional, na proposta do Senador Cristovam Buarque, apenas para citar dois exemplos). Eu gostaria, se você me permite, de acrescentar duas problemática, que me parecem relevantes, no pano de fundo dessa questão. A primeira, enquanto um compotente afetivo-comportalmente (psicológico), diz respeito à inadequação/incapacidade de assimilarmos a idéia de “um mundo com recursos finitos” enquanto nossas metáforas-mitos pessoais, sobre nós mesmos e as relações que estabelecemos com o Outro/Alteridade, insistirem no ponto de que “somos infinitos” – em nossas respostas, em nossas experiências, em nossa resiliência, em nossa potência etc. O Progresso é, apenas, a faceta externa que se desdobra de um Princípio Antropocêntrico, Soberano na Vontade e Liberdade sobre Si e sobre o Mundo, a Vida, a Natureza. O segundo ponto, talvez não ocasional, diz respeito ao interesse POLÍTICO nesse conceito de “Empatia” (vide estudos na Economia, Tania Singer – Alemanha, dentre outros), manifesto em publicações, tais como: de Frans de Waal, The Age of Empathy, e de Jeremy Rifkin, The Empathic Civilization. Talvez, para manejar o Princípio do Decrescimento, precisaríamos investir nesse operador “Empático”, deslocando-o da esfera privado e inscrevendo no campo do Público. Dispositivos e Sociabilidades “Empáticas”, ao meu ver, seriam também capazes de integrar novas estruturas psíquicas acerca do “limite”. Deixo mais uma vez meu abraço, imaginando outras interlocuções. Abs, André Feitosa.