Meu artigo publicado na edição de hoje (20/10/2011) no O POVO.
A vassoura que assusta
Plínio Bortolotti
Em pelo menos dois artigos que escrevi recentemente levantei a possibilidade de que a “primavera” que percorre os países árabes e europeus poderia rebater-se no Brasil.
Mas os ventos primaveris sopraram primeiro nos Estados Unidos: o movimento “Ocupe Wall Street” (a Rua do Muro, centro financeiro do mundo) e o grito de “99% contra 1%” (de bilionários do país) pegou políticos e imprensa de surpresa. Os atos – que reúnem gente de todas as idades – espalharam-se a partir de Nova York replicando-se em várias cidades americanas.
É normal que a gravidade dos problemas demore a ser percebido pelo establishment (o poder estabelecido, em seu sentido mais amplo). É um mecanismo psicológico do velho que não quer morrer, enquanto o novo se esforça para nascer*.
Os movimentos renovadores demoram a ser reconhecidos pelas “elites”, que se recusam a crer no que veem. A seis dias da Proclamação da República, por exemplo, o Império promoveu uma de suas maiores festas, o Baile da Ilha Fiscal.
A história, como a vida, sempre encontra formas de se manifestar: os que vaticinaram o “fim da história” quebraram a cara
Mas a pergunta que eu queria fazer é a seguinte: por que, no Brasil, os atos anticorrupção – que tentam emular o movimento europeu e árabe –, apesar do evidente apoio dos meios de comunicação, continuam patinando?
Eu tenho uma teoria. Os movimentos contra a corrupção no Brasil sempre foram desculpa golpista para os conservadores. Eu tremo de medo quando veja nesses atos a utilização da vassoura como símbolo de “limpeza”. Incontinenti, me vem à cabeça o histriônico Jânio Quadros, que nos legou a ditadura militar. Lembro dos próprios militares, utilizando-se do mesmo mote – junto com o fantasma do comunismo – para aterrorizar a classe média. E, mais recentemente, o “caçador de marajás”, Fernando Collor.
Creio que isso formou uma espécie de “memória coletiva”, que rejeita esse tipo de manifestação, pois recorda os resultados anteriores.
*Analisando a sua época, início do século passado, o marxista italiano Antonio Gramci escreveu que a crise residia na situação em que “o velho resiste em morrer e o novo não consegue nascer”.