Meu artigo publicado na edição de hoje (22/3/2012) do O POVO.

Arte de Hélio Rôla (clique para ampliar)

Corruptores
Plínio Bortolotti

Muitos acreditam que o vírus da corrupção é um mal que inocula somente funcionários públicos e políticos. A reportagem que o programa Fantástico (Rede Globo) apresentou no domingo tem, entre outros, o mérito de pôr abaixo essa crença do senso comum.

Viu-se, de maneira transparente, como funciona a “ética do mercado”, como disse o representante de uma das empresas para justificar o seu delito contra a saúde pública. Prática tão comum que outro “empresário” disse: “Uma das coisas que eu passo para os meus filhos e que eu aprendi,…” – ao garantir ao repórter da Rede Globo (que se passava por diretor de um hospital) que a falcatrua não seria descoberta – “…eu protejo meus contratantes e meus contratantes me protegem”.

Não deixa de ser uma ética, a ética da omertà, o código de silêncio da máfia italiana.

Coincidentemente, a edição de segunda-feira (19/3) do The New York Times/O POVO trouxe matéria sobre a “guerra” que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos move contra o uso de suborno que as grandes corporações lançam mão para conseguir negócios em outros países.

Com base em uma lei que existe há 35 anos – a Foreign Corrupt Pratces Act (FCPA) –, mas que começou a ser acionada com mais vigor nos últimos anos, 58 empresas já pagaram 3,74 bilhões de dólares em acordos extrajudiciais, para se livrarem de processos.

Mas, tanto lá, como cá tem gente que entende ser “natural” que empresas privadas usem a corrupção em seus negócios. Um juiz federal considerou que o Departamento de Justiça havia sido “muito, muito agressivo” na interpretação da lei. A presidente do Instituto Legal da Câmara de Comércio dos EUA está fazendo campanha pela modificação da FCPA, considerando que o Departamento de Justiça está tomado por um “zelo excessivo” no combate à corrupção.

No Brasil, vamos ver se daqui, para frente, a indignação cívica não recaia somente sobre os suspeitos de sempre, mas que também se dirija aos corruptores – pois um não existiria sem o outro.