O texto abaixo foi reproduzido do Observatório da Imprensa, originalmente publicado no El País (Espanha). A tradução foi cometida por mim [grifei].

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Edwy Plenel: “A imprensa interpretou mal a revolução digital”

Por Verónica Calderón em 11/12/2012 na edição 724
Reproduzido do El País, 4/12/2012; título original “La prensa ha interpretado mal la revolución digital”.

Tanto faz se em papel ou digital: o jornalismo não deve ser imediatista, nem superficial e nem gratuito. Edwy Plenel (Nantes, 1952), diretor da Mediapart.fr, tem isso bem claro. Ele não é um guru digital da moda nem tuiteiro na esquina (ainda que tenha mais de 150 mil seguidores, porém essa é outra história). É um veterano jornalista, um dos mais importantes da França, com uma trajetória profissional de mais de 30 anos. Passou vários deles – 25 para ser exato – no Le Monde, onde fez de tudo, ou quase tudo. Entrou em 1980 como redator de educação e saiu em 2004, depois de ocupar durante quatro anos a direção da redação. Em 2008 iniciou o Mediapart. E está contente. “Temos demonstrado a rentabilidade do jornalismo de investigação. Podemos resistir ao temporal.”

As coisas como são: o otimismo de Plenel é uma autêntica raridade na profissão. O “oficio mais bonito do mundo”, García Márquez dixit, não está para brincadeira. Muito menos na Espanha. O jornalismo é um dos setores que sofre mais golpes hoje em dia, em um já difícil mercado de trabalho. Mais de 8.800 jornalistas foram despedidos desde o início da crise. Ainda assim, Plenel defende que na Espanha – “como na França há cinco anos”- existe uma oportunidade para fazer “jornalismo de investigação, de qualidade e independente. O jornalismo de sempre”. Suas investigações [da Mediapart] têm causado dor de cabeça à classe empresarial e política francesas. O mais importante: o caso Bettencourt, que descobriu uma rede de financiamento ilícito entre o império L’Oréal e o ex-presidente Nicolas Sarkozy.

Na apertada agenda do lendário jornalista francês (nas faculdades suas reportagens dos anos 1980 são estudadas; e, durante sua gestão, o Le Monde superou o Le Fígaro em vendas), apenas tem tempo para um cafezinho. Ele veio a Madri apresentar a seu sócio espanhol, Infolibre, um projeto inspirado no Mediapart e falar sobre seu ensaio “Combate por una prensa libre” (Edhasa, 2012), um “manifesto por uma imprensa livre”.

Mediapart.fr tem 30 jornalistas em sua folha de pagamento, e seus princípios fundadores não poderiam estar de modo mais claro contra o que faz a maioria. “Quando começamos, todos diziam Ils sont fous! (Estão loucos!)”. As regras do Mediapart são três: 1) A informação não deve ser imediata: tem três edições diárias, às 9h, às 13h e às 19h. 2) Não é superficial: “É preciso comprovar, planejar, discutir, refletir”. 3) Não é gratuita: nove euros por uma assinatura mensal, um euro por acesso de duas semanas. Plenel assegura que a fórmula tem dado certo. Tem mais de 60 mil assinantes fixos: “Todos os dias temos novos assinantes”, diz. Em 2011, o Mediapart obteve 570.000 euros de lucro e este ano o projeto é superar a cifra.

Escutá-lo anima o jornalista mais deprimido. “Interpretamos mal a revolução na internet. Ela não é nossa competidora. É a melhor notícia para o jornalismo, porque nos obriga a escutar os cidadãos”. E insiste que seu otimismo não é ingênuo. Cita Antônio Gramsci: “O pessimismo da inteligência é o otimismo da vontade”. Em seu novo ensaio reitera que o jornalismo é crucial para “uma sociedade democrática”. E que os primeiros interessados em defendê-lo devem ser os próprios jornalistas. “Como esperarmos que os leitores confiem em nós se nós não confiamos neles?”

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