Está bem amigos,
Canoa Quebrada não é mais o que era na década de 1970 ou no comecinho da década de 1980, quando a conheci: um vilarejo de pescadores, com duas ou três pousadas simples, em que se podia hospedar na casa de pescadores, convivendo com suas famílias.
Era um lugar pobre, mas decente, no qual não faltava nada essencial à sobrevivência dos moradores: não havia meninos “pastorando” carros, nem “guias” para tudo e para quê.
Bom selvagem
Bom, depois de os hippies terem-na “descoberto” foi a vez do capitalismo tocar o lugar do “bom selvagem”. E vocês sabem a força da grana ergue e destrói, etc.
Entanto, esquecendo-se um pouco politicamente correto, Canoa continua um lugar interessante para quem quer um lugar tranquilo de dia (desde que seja sem dias da semana e fora de temporada) e alguma coisa para fazer à noite: música, restaurantes, bugigangas e mais uma ou outra coisa.
Você pode, por exemplo, cortar o cabelo no salão da Beth, por módicos dez reais – e serviço perfeito – , menos da metade do que cobram as não tão boas casas do ramo em Fortaleza.
Caminhando
Mas, se você for um sujeito dado à serendipidade, como eu, e percorrer as ruas fora dos circuito “Broadway” e das pousadas chiques, vai observar casebres, ruelas escuras, becos cheios de lixo e malcheirosos, o lugar para onde foram afastados os antigos moradores.
Canto Verde
Agora, se você quer um lugar tranquilo de verdade, sem nada para fazer, além de descansar a cabeça, fazer caminhadas, tomar banho de mar e dormir à noite – ou fazer alguma outra coisa se você estiver bem acompanhado, então recomendo a Prainha do Canto Verde, com suas pousadas simples, pessoas amigáveis e preços justos.
Resex
A Prainha do Canto Verdade, depois de uma luta intensa dos moradores, transformou-se em uma Resex (reserva extrativista), o que impõe algumas restrições. Com isso, espera-se, o lugar ficará a salvo do turismo predatório e os moradores ficarão livres da exploração que impõe a alta grana, quando chega a esses lugares.
O Canto Verde fica no litoral Leste, a 110 km de Fortaleza, depois de Beberibe, antes de Fortim. Canoa você já sabe: na mesma direção, a 150 km, logo depois de Aracati.
Prezado Plínio, parabéns pela matéria. Sou frequentador da Prainha do Canto Verde, sempre vou lá em feriados em finais de semana com a minha família. Sobre a reserva extrativista tenho a informar que grande parte dos moradores de lá são contra a reserva na parte terrestre, pois tirou deles a autonomia e o direito de ter o título de propriedade da casa. Eles contam que quando precisam construir um banheiro ou um quarto a mais na casa, para um filho que cresceu ou casou, são multados pelo Instituto Chico Mendes. Eu como advogado já fiz a defesa de várias multas de lá, uma delas no valor de 21 mil reais. A mulher multada ainda hoje está doente. Ela é muito humilde. Dito isto, sugiro ao nobre jornalista, conhecer a história da Resex na Prainha, pois já trouxe muito sofrimento para os nativos, que inclusive, denunciam estrangeiros de se aproveitarem da pobreza deles para trazer dinheiro do exterior. Afirmam ainda que que assinaram um abaixo assinado solicitando reserva apenas no mar, e depois foram enganados. Vários projetos foram implementados lá, mas a prestação de contas até hoje não foi feita. Continue escrevendo sobre a Prainha do Canto Verde.
Um abraço do seu leitor e admirador do seu trabalho,
Valdércio Branco
Advogado
Caro Valdércio,
Conheço a história da Prainha do Canto Verde, desde a década de 1980, quando dom Aloísio Lorscheider ajudou a comunidade a enfrentar especuladores imobiliários que queriam tirar-lhes a terra. Conheço também a disputa que se desenvolve agora, em torno dos que querem e dos que não querem manter a Reserva Extrativista (Resex) na área continental.
Se há algum tipo de abuso na cobrança de multas ou impedimento que os moradores tradicionais se acomodem nos locais onde moram, creio que será preciso corrigi-lo; mas – a meu ver – a Resex na área continental é uma solução adequada para evitar que a Prainha do Canto Verde se transforme em uma nova Canoa Quebrada.
Vejam bem: não sou contra o turismo como o que ocorre em Canoa. O que acho absolutamente injusto é que alguns poucos lucrem, enquanto as populações tradicionais são empurrada para as periferias e para a miséria, perdendo o direito à vida que tinham, e sem ganhar nenhum benefício com a nova situação.
No mais, agradeço por sua leitura e por ter escrito – e fico à disposição para conversarmos mais.
Abraço,
Plínio