Meu artigo publicado na edição de hoje (14/2/2013) do O POVO.

Foto: Drawlio Joca (clique para ampliar)

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Lincoln e Zé Dirceu
Plínio Bortolotti

“O Zé Dirceu tinha feito isso bem rapidinho.” O comentário eu ouvi à saída do filme Lincoln, que conta a história de como foi aprovada a 13ª emenda à Constituição americana – que pôs fim à escravidão – e esse momento na vida do homem que foi seu artífice: o 16º presidente dos Estados Unidos, Abrahan Lincoln.

O comentário do espectador tem a ver com o modo como a emenda foi aprovada; se é justo fazer paralelo com o chamado “mensalão” é outra história.

Em uma das cenas, um dos parlamentares mais radicais – que propunha o fim da escravidão acompanhado do confisco de terras dos fazendeiros do sul para distribuí-las entre os negros -, leva o documento recém-aprovado para casa, entrega-o à sua companheira, uma negra, e lhe diz: “A maior medida do século XIX foi aprovada pela corrupção”.

O filme se passa nas duas semanas em que Lincoln conseguir sair de uma derrota – o Congresso havia rejeitado a proposta um mês antes – para uma vitória histórica: os mesmos congressistas aprovaram a emenda. Como ele faz para virar os 20 votos que lhe dariam os 2/3 necessários para a aprovação?

Chamou seu chefe de gabinete e mandou que negociasse os cargos no seu segundo governo com os parlamentares que perderam a eleição – e estariam “sem emprego” brevemente. Para fazer o serviço, digamos, pouco republicano, foi contratada uma turma de operadores – mostrada de forma um tanto cômica -, instruída a não citar o nome de Lincoln. O presidente lançou-se às negociações abertas, na tentativa de convencer os recalcitrantes e acalmar os radicais. Usou a sedução (era bom nisso), ameaças e trapaças, no que também saía-se muito bem.

Olhando o passado, quem ousaria criticar Lincoln por fazer o que fez, em plena guerra civil que dilacerava o país? Mirando o futuro, o que dirá a velha senhora, a História, sobre Lula, Zé Dirceu e o Partido dos Trabalhadores?

Resta perguntar: será que a política foi e será sempre assim? O filme mostra políticos dispostos a vender a alma. Por sua vez, Lincoln é mostrado com um homem isento de ambições particulares, exceto a maior de todas: a de deixar seu nome na história da humanidade, o que, sem dúvida, conseguiu.

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