Meu artigo publicado na edição de hoje (7/3/2013) do O POVO.

Arte: Hélio Rôla

Arte: Hélio Rôla (clique para ampliar)

Venezuela – a.C./d.C.
Plínio Bortolotti

Endeusar ou demonizar Hugo Chávez – os de sempre farão isso – pouco explicará a respeito de sua personalidade e sobre as profundas mudanças que sua política provocou na Venezuela.

Chávez mudou a cara do país, que ficou mais parecida com a sua própria face, um índio oriundo das classes pobres, para as quais e elite branca sempre virou as costas.

Se aqueles que o criticam de fora do país não perceberam isso, o perspicaz Henrique Capriles, o principal opositor do chavismo, “captou a mensagem” que vinha dos de baixo: Chávez melhorou-lhes a vida, propiciou-lhes mais renda, mais saúde e mais educação. Capriles, na sua campanha presidencial contra Chávez, comprometeu-se a manter essa política – e, apesar da derrota – certamente, não teria a quantidade de votos obtidos se tivesse agido de modo diferente.

Haverá poucos opositores que terão coragem de combater essas conquistas sociais – pelo menos abertamente – sem correr o risco de anularem-se politicamente. O chavismo deverá ser mais persistente que o homem que o criou, como é o caso do peronismo na Argentina.

Sem dúvida, há muito o que criticar em Chávez, como a desorganização econômica do país, o personalismo exacerbado, a sua proximidade com ditadores dos mais diversos matizes, os métodos utilizados para fazer algumas mudanças – operando, por vezes, no limite da democracia. A sua retórica exacerbada também incomodava adversários e inimigos, mas a par disso, era pragmático: “el diablo”, os Estados Unidos, era um dos maiores compradores do petróleo venezuelano.

Os seus acertos e erros serão explorados pelos admiradores e detratores. De qualquer modo, condenando-se ou louvando-se Hugo Chávez, há um ponto que todos devem concordar: a história republicana da Venezuela terá de ser dividida entre antes e depois de Chávez – ou seja, a.C./d.C.

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