Meu artigo publicado na edição de hoje (14/3/2013) no O POVO.

Comentário sobre a banalidade
Plínio Bortolotti

Comentei por diversas vezes, neste espaço e na intervenção diária que faço no programa Revista O POVO/CBN, os problemas da segurança pública no Ceará. No meu trabalho como jornalista procuro um difícil distanciamento para equilibrar as análises, pois não me anima a consigna “contra tudo o que está aí”, tendo aprendido com Machado de Assis esta lição: “Há muito modos muitos de afirmar, mas um só de negar tudo”.

Em sendo assim, por vezes deixo algum assunto suspenso por algum tempo para evitar parecer perseguição ao objeto da crítica. Entanto, é forçoso comentar a afirmativa do governador Cid Gomes (PSB) – considerando “algo comum” a briga de presos na Casa de Privação Provisória de Liberdade, que culminou com com sete deles mortos – para que não se banalize o que deveria causar horror.

A fala de Cid Gomes, ao tempo em que pode sugerir pouca consideração pela vida humana (sim, presidiário também é gente), mostra que ele parece alienado de sua responsabilidade como governador, quanto ao dever de propiciar condições seguras a quem está sob a guarda do Estado.

Mas nem mesmo pelo valor de face pode ser tomada a sua assertiva, pois levantamento do OPOVO mostra que, desde a década de 1960, esta foi a ação em presídios no Ceará que mais causou mortes. Mas ele ainda vai além, dizendo que “o problema nessa área vai existir”, atribuindo-o à conduta “problemática” dos presos.

Sobre a conduta “problemática” dos governos, a maioria, que não conseguem nem ao menos debater decentemente a situação da segurança pública, ele se cala. O governador não negou, por exemplo, o baixo número de agentes de segurança no presídio (10 homens para vigiar 1.127 presos, segundo o presidente do sindicato da categoria), quando “algo comum” ocorria lá dentro.

Por fim gostaria de propor uma exercício aos leitores: se sete cidadãos, digamos, “acima de qualquer suspeita”, envolvidos em uma briga fossem chacinadas, concordaríamos que seria “algo comum” ou nos indignaríamos todos?

Tagged in:

,