Arte: Hélio Rôla (clique para ampliar)

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Meu artigo publicado na edição de hoje (8/8/2013) do O POVO.

Tudo como dantes no quartel de Abrantes
Plínio Bortolotti

Na sessão da Assembleia Legislativa de ontem o secretário da Segurança Pública, coronel PM Francisco Bezerra, afirmou que a situação do setor comandado por ele é “complexa e difícil”, entendendo esse reconhecimento como gesto de “humildade”. Seria se os dois adjetivos quisessem dizer alguma coisa, mas, como podem ser aplicados para qualquer tarefa relacionada a qualquer governo, não querem dizer nada.

As velhas desculpas para justificar a situação dramática de insegurança em que se vive foram revigoradas pelo coronel: que o problema é generalizado; que a maioria dos homicídios se deve às drogas; a queixa das leis, que seriam muito brandas com os criminosos; e, como não poderia deixar de ser, a carga contra os menores infratores, que seriam “intocáveis”.

O coronel, pródigo em desfiar números “positivos”, não apontou nenhum estudo para provar que a maioria dos homicídios têm origem no tráfico de drogas; também não mostrou quantos criminosos presos pela polícia são libertados pela Justiça, e nem apresentou dados para demonstrar qual o percentual de crimes, principalmente homicídios, são cometidos por menores de idade. Não os apresentou porque os índices desmontariam seus argumentos. Outra possibilidade é que a Secretaria não disponha de levantamento nas áreas citadas, deixando propositalmente o campo livre para os chutes.

O secretário disse ter comparecido à Assembleia para revelar a “verdade” dos fatos. Porém, a verdade, comprovada pelos números, é que o seu projeto de segurança fracassou completamente. “Humildade” seria reconhecer isso e mudar de rumo, mas, pelo que disse o coronel, ele vai persistir no erro.

PS. Durante sua fala, coronel fez alusões pouco simpáticas ao O POVO, sem citar o nome do jornal, devido às seguidas matérias sobre a precária situação da segurança pública. Para o secretário, deixo um dos mais interessantes conceitos de jornalismo: “Notícia é tudo aquilo que alguém não quer ver publicado; o resto é propaganda”.