Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, do O POVO (1º/5/2014).

Arte: Hélio Rôla

Não é só pelos 20%
Plínio Bortolotti

Não faço a mínima ideia de como Lula chegou ao resultado da equação para afirmar que o julgamento da ação penal 470, o chamado “mensalão”, foi 80% político e 20% jurídico. Seriam os 20% a aceitação de que foi “somente” caixa 2? E os 80%, seriam creditados, principalmente, à condução do processo pelo presidente Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, possível candidato a qualquer coisa quando deixar a Corte? Descobrir-se-á algum dia a planilha em que Lula fez seus cálculos, como metrificou e deu peso a cada um dos itens listados?

Porém, mesmo considerando que um ex-presidente teria de ter prudência com a fala, Luiz Inácio Lula da Silva tem todo o direito de criticar o STF, cujos ministros (nem todos) também ignoram o recato que se deveria esperar de julgadores. Falam aos borbotões, Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, pontificando sobre tudo, como se ungidos a uma espécie de Poder Moderador (ou provocador?) da República, em vez de nomeados juízes da da mais alta Corte do país.

Como a época é eleitoral os jornalistas correram atrás dos pretendentes à Presidência da República para “repercutir” a fala de Lula. Os “pré-candidatos”, por óbvio, não se furtaram a dar pitacos para aparecer bem na fita.

Aécio Neves (PSDB) mostrou-se preocupado com a biografia de Lula, dizendo que a matemática formulada pelo ex-mandatário “não engrandece” o seu currículo. Eduardo Campos (PSB), saiu-se com o velho clichê: decisão do Supremo “se cumpre, não se discute”. Concordo com a primeira parte da frase, discordando da segunda. Em uma democracia, nenhuma instituição está acima da crítica. Os aliados de Campos, da Rede, que são mais criativos, poderiam ter-lhe soprado uma resposta mais sustentável.

Além do mais, Campos deve ter-se esquecido de que a decisão do STF está sendo cumprida, em alguns casos até de modo excessivo, como se pode ver pela condição imposta a José Dirceu.

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