Reprodução do artigo publicado na edição de 29/5/2014 do O POVO.

Arte: Hélio Rôla

Sobre a linguagem
Plínio Bortolotti

É patético (e antiético) que uma psicóloga, responsável pelos Centros de Atenção Psicossocial de Fortaleza, os Caps, trate depreciativamente, como “loura”, a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, e a acuse de usar drogas ilícitas. Como responsável por um centro de atendimento a pessoas com problemas psicológicos e dependentes de drogas (lícitas e ilícitas), Natália Rios deveria ser livre de preconceitos contra quem ela tem a obrigação de ajudar. E o disparate deu-se via Facebook, falando de assunto que nem é de sua atuação: estava defendendo as “as obras em execução em nossa cidade” tocadas pelo chefe dela, o prefeito Roberto Cláudio.

Dia desses, um inspetor mandou que guardas municipais descessem a “sola”, em estudantes que protestavam e nos repórteres que cobriam a manifestação, sem que ouvisse uma reprimenda do prefeito. Recentemente, o secretário da Educação, Ivo Gomes, foi à Câmara e chamou um vereador de “pateta”; ele também costuma distribuir insultos (alguns impublicáveis) a seus desafetos, via Facebook. O secretário da Saúde, Ciro Gomes, mantém o antigo hábito de exagerar no campeonato da vulgaridade verbal. (Se bem que esses tem as costas mais quentes do que os outros imprudentes municipais.)

Em alguns países, um deslize verbal é capaz de derrubar ministros. Aqui mesmo, no Brasil, Rubens Ricúpero, um dos responsáveis pelo Plano Real (1994: governo Itamar Franco), renunciou ao poderoso Ministério da Fazenda por ter uma conversa vazada: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde” (que hoje seria considerada inocente). Porém, atualmente, o vale-tudo verbal parece não incomodar a mais ninguém.

Por isso, o prefeito Roberto Cláudio poderia dar o exemplo, enquadrando os seus auxiliares, de modo a obrigá-los a respeitar a liturgia do cargo, tanto nos limites da lei, quanto nos limites do linguajar desejável (quando não obrigatório) a servidores públicos.

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