Reprodução do artigo publicado na edição de 20/11/2014, editoria Opinião, do O POVO.
Plínio Bortolotti
Semana passada escrevi sobre integrantes de instituições que se valem de sua posição para se autoatribuirem benesses, em insuportável vezo corporativo, ou mesmo para cometer malfeitos – o que sempre causa espanto.
Outro mal que corrói a credibilidade das instituições é a exuberância de certos funcionários públicos em funções que exigem reserva. Um dos exemplos mais extravagantes é o ministro Gilmar Mendes, do STF, sempre pronto a dar pitaco sobre tudo, e falando disparates como o “perigo” de o Supremo se transformar em um tribunal “bolivariano”.
Corte para a Operação Lava Jato, conduzida pela Polícia Federal.
É elogiável o trabalho da PF que, na semana passada iniciou ofensiva contra empresas envolvidas em corrupção, levando o braço da lei até o “cidadão acima de qualquer suspeita” (vários), raríssimo no Brasil. Privilégio que, até pouco tempo, também desfrutavam políticos. Se bem que – justa ou injustamente -, os políticos sempre gozaram de má fama, enquanto os empresários habitualmente saíam ilesos (da punição e das maldições populares), como se fosse possível haver corruptos sem corruptores. Ou como se o “mal” fosse exclusividade do setor público e o “bem” apanágio da iniciativa privada, atributo exclusivo do “mercado”.
Feita a ressalva, voltemos aos dois parágrafos iniciais. É inaceitável que o delegado responsável pelas investigações, Igor Romário de Paula, e alguns de seus colegas da PF do Paraná – onde estão concentradas as investigações – fizeram durante as eleições, usando redes sociais para atacar a presidente Dilma Rousseff (PT) e elogiar o candidato do PSDB, Aécio Neves.
Com esses policiais mantendo um grupo no Facebook com o nome de “Organização de Combate à Corrupção” – cujo lema é “Fora PT” -, como fica a isenção investigativa? Eles atentam contra os princípios do serviço público, e seu comportamento pode pôr sob suspeita uma investigação que – se for bem conduzida – pode ajudar a melhorar os costumes políticos do país.