Reprodução do artigo publicado na edição de 18/12/2014, no O POVO.

Hélio RôlaContra a cassação de Bolsonaro
Plínio Bortolotti

Podem buscar em meus artigos, eu nunca desqualifico aqueles de quem falo, porém, se existe alguém que merece o adjetivo canalha, essa pessoa é o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ); além do mais, é covarde, pois o homem que empurra uma mulher (e sem ao menos estar ameaçado), é um pusilânime. As “ideias” que ele expectora são abjetas e merecem desprezo.

Mesmo assim, sou contra a sua cassação, em nome do direito que ele tem de expressar suas sandices odiosas. (A “esquerda” e a OAB também pediram a cassação do candidato a presidente, Levy Fidelix, devido a uma referência depreciativa aos homossexuais.)

A Constituição é sábia ao assegurar no artigo 53: “Os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. É uma proteção mínima para o pleno exercício do mandato conferido pelo voto popular. Se o preço que se tem a pagar por essa liberdade é que dela também podem desfrutar os bolsonaros, que seja pago. Pior é criar-se uma polícia das palavras, que pode atingir amanhã os acusadores de hoje.

O princípio que se tem de seguir em casos assim é o mesmo citado no filme O povo contra Larry Flint, quando ele lutava nos tribunais contra a censura às suas revistas: “Se a Primeira Emenda protege uma pessoa miserável como eu, protege qualquer um, porque eu sou o pior”. A Primeira Emenda da Constituição americana garante a liberdade de expressão e de imprensa – e o debate era se ela valeria também para as revistas pornográficas que Flint editava.

Calar Bolsonaro é o caminho mais fácil: é preciso confrontá-lo com ideias melhores, inclusive para convencer seus mais de 460 mil eleitores, bem mais trabalhoso do que pedir a sua cassação.

PS. A mais, a militância gauche (pelo menos a cearense) precisa começar em casa. Quando uma professora “de esquerda” manifestou terrível homofobia contra um guarda municipal, não recebeu uma única reprimenda. Pelo contrário, foi louvada: aqui.