Reprodução do artigo publicado na edição de 23/4/2015 do O POVO.
Dos abusos
Plínio Bortolotti
(Antes de continuar, uma ressalva: o que se segue não é um apelo à “criminalização da política”; revolta quanto ao fato de o parlamentar dispor do dinheiro público para exercer o seu mandato; um ataque aos partidos. Trata-se de crítica ao exagero, à indulgência com que políticos tratam a si mesmos, aos desmedidos privilégios que se concedem; isto sim demanda pelo descrédito da política.)
Segundo levantamento do portal Congresso em Foco, o conjunto de senadores e deputados custa ao país R$ 1,1 bilhão por ano: considerando-se somente salário e benefícios (cota, ajuda de custo, verba de gabinete e auxílio moradia), que compõem verba mensal de R$ 147 mil apropriada pelo parlamentar.
A cota parlamentar, de R$ 42 mil, pode ser utilizada para as mais diversas atividades, de propaganda do mandato a viagens. E como a usam os deputados cearenses mais gastadores? Com “assessoria terceirizada” (sendo que cada gabinete já seus próprios funcionários e sem contar que a Câmara dispõe de técnicos altamente especializados), aluguel de carros 4 x 4 e frete de aeronaves.
Quanto ao fundo partidário, e a forma frouxa como suas verbas são distribuídas, talvez seja uma pista para se entender porque se criam tantos partidos no Brasil: é lucrativo possuir um, mesmo que seja nanico – basta registrá-lo para deitar a mão no dinheiro.
Cálculos do blog Para Entender Direito mostram que nos últimos 21 anos o fundo foi corrigido em 1.586%; se o salário mínimo houvesse sido reajustado na mesma proporção, valeria hoje R$ 77 mil. Porém, no Brasil, quem nasce para salário nunca chegará a fundo partidário.
PS. E o ajuste fiscal? Ah, que se dane, sempre tem um trouxa para pagar a conta.