Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 11 de outubro de 2015 do O POVO.

O que o leitor quer: notícias boas ou ruins?
Plínio Bortolotti

Pergunte, ou faça uma pesquisa, e um número significativo de leitores, senão a maioria, dirá que não aguenta mais ver “más notícias” ou tragédias e mortes nos jornais -, afirmando querer encontrar “boas notícias” nos meios que escolhem para ler, ver ou ouvir. Chegou ao ponto de alguns veículos criarem a seção “boa notícia” para atender a esse público supostamente majoritário. Além disso, surgiram algumas agências noticiosas especializadas em notícias positivas – sem nenhum tipo de informação sobre violência em seus boletins.

Qualquer pesquisa também vai mostrar que as “notícias policiais” estão entre os últimos conteúdos citados, quando se pergunta o tipo de matéria que o leitor busca para se informar. Normalmente, aparecem nos primeiros lugares “notícias locais”, “notícias nacionais”. Até os temas “economia” e “política” costumam ficar à frente da cobertura policial.

Porém, confrontemos com a realidade. Buscando “notícias mais lidas” no Google cheguei aleatoriamente a um grande portal na internet, com as notícias mais lidas, em 1º/10/2015:

1. Polícia investiga vazamento de fotos de jovem encontrada morta em hotel.
2. Cantor posta fotos e é multado por apologia a abate de bichos silvestres.
3. Nasa e ESA detalham missão para tentar desviar rota de asteroide.
4. “Me senti estuprada”, diz mulher de Stênio Garcia sobre fotos vazadas.
5. “Tentamos 4 vezes e ainda não temos o carro de R$ 30 mil”, diz Chevrolet.

Fui ao portal O POVO Online, semana de 26/9 a 2/10/2015:

1. “Nudes” de Stênio Garcia e mulher rendem “memes” no Twitter.
2. Homem é executado em cruzamento da Via Expressa.
3. Quarteto envolvido em crimes no Ceará grava vídeo ostentando armas pesadas.
4. PM e motociclista morrem em acidente na BR-116.
5. Eclipse e superlua: entenda os fenômenos que tomam o céu.

Ou seja, prevalece a violência entre as mais lidas, juntamente com o chamado (pelos teóricos da comunicação) fait divers, expressão francesa que designa “fatos diversos”: casos pitorescos, notícias sobre “personalidades”, entre outras banalidades. Fato é que a amostra é muito pequena, porém, não creio que haveria grande mudança se o recorte fosse ampliado. Além disso, é preciso considerar audiência brutal dos “programas policiais”, quem medram nas rádios e TVs.

A respeito do último tiroteio ocorrido em uma escola nos Estados Unidos, no estado do Oregon, que deixou pelo menos nove mortos, o jornalista americano Barry Petchesky escreveu:

“O público pode dizer que não quer os detalhes sórdidos; os números de audiência dirão que o público está mentindo. (…) o amplo e voraz consumo de breaking news [últimas notícias, que interrompem transmissão normal] e a tendência de que esse tipo de notícia se espalhe rapidamente apontam para o contrário. O público, certamente, irá ligar na CNN enquanto a notícia estiver em desenvolvimento, e então falará mal de repórteres que especulam o que pode ter acontecido, porque os fatos ainda não são claros, e em seguida trocará de canal para ver se outra emissora está noticiando algum fato novo”.

O mesmo pode ser dito no Brasil, quando um criminoso mantém um refém em cárcere privado e a TV acompanha o caso ao vivo, como se fosse uma novela. Ou em outros crimes bárbaros, nos quais a curiosidade mórbida do público é atendida pelos noticiosos nos mínimos detalhes.

São os meios de comunicação que impõem essa pauta ou ela é resultado da exigência do público?

NOTAS

Pesquisa
Se o público gosta de ler, ver e ouvir notícias sobre violência, porque as pesquisas não captam essa tendência? As pessoas teriam vergonha de dizer que são capturadas ou têm preferência por esse tipo de informação?

Ética
É legítimo que os meios de comunicação estimulem a propagação da violência somente com o objetivo de obter audiência? Porém, reconhecendo que é obrigação dos jornais publicarem também esse tipo de notícia, como fazê-lo de modo ético?

Crédito
O trecho do artigo do jornalista Barry Petchesky, reproduzido acima, pesquei de texto de Moreno Osório, no Farol do Jornalismo.

Autoria
Na coluna da semana passada anotei não ter conseguido a autoria da música “Mamãe” (“avental todo sujo de ovo”). Vasco arruda, também articulista do O POVO – e que se dá ao trabalho de ler meus textos -, informa que os autores são Herivelto Martins e David Nasser.

 

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