Reprodução do artigo publicado na edição de 18/2/2016 do O POVO.

Só a greve salva?
Plínio Bortolotti

Na edição de domingo (14/2/2016), o professor André Haguette escreveu sobre mais uma greve que se iniciou nas escolas públicas de Fortaleza. Ele chama a atenção para os prejuízos irreparáveis que os dias sem aula acarretam para os alunos.

Para Haguette, os governantes demonstram parca transparência, pouca habilidade para negociar e ficam “inertes” quando greves são deflagradas, “tentando matá-las pelo cansaço”.

Nenhum reparo a esses argumentos. Mas vejamos o outro lado:

1) Será que as escolas privadas pagam tão mais a seus professores ao ponto de, nesse segmento, as greves serem desnecessárias?

2) A cada greve, invariavelmente, os sindicatos levantam a bandeira de “melhores condições de ensino”. Mas, se essa preocupação com os alunos é constante, por que, quando a reivindicação pecuniária é atendida, o movimento inapelavelmente termina?

3) Por que, em vez de negociação anual, os sindicatos não insistem em um acordo que dure, por exemplo, cinco anos, de modo a haver um mínimo de segurança para que as propostas educacionais possam ser implementadas?

4) Os professores já pensaram que os estudantes de escolas públicas são oriundos dos setores mais carentes da população, portanto, mais fragilizados quando se trata de defender seus direitos?

5) Certo que os governos têm culpa, mas os mestres não sentem nenhuma por isto?: 2005 (15 dias de greve); 2006 (52 dias de greve); 2007 (67 dias de greve); 2009 (99 dias de greve); 2011 (60 dias de greve); 2014 (4 dias de greve); 2016 (início 12/2 até…).

Aí, os professores podem perguntar: mas vamos aceitar tudo calados, sem fazer nada? Claro que não. Podem, por exemplo, manifestar-se todo dia em frente à prefeitura; podem ocupar a Câmara dos Vereadores; podem encher a paciência dos deputados, procurar o bispo. Incomodem incansavelmente os políticos, mas permitam que os estudantes estudem.

PS. Artigo do professor Haguette aqui.

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