Reprodução do artigo publicado na edição de 3/3/2016 no O POVO.

Linchadores virtuais
Plínio Bortolotti

Depois de fazer um post em seu blog, com o título “Mulher”, criticando alguns aspectos do feminismo ou de um certo feminismo, a matilha virtual caiu sobre Fernanda Torres, com aquela delicadeza de sempre.

Uma das “acusações” é que ela – uma mulher branca, de classe média – não poderia escrever sobre o assunto, pois desconhecia situações da qual está protegida por status privilegiado na camada social. Ou seja, o argumento autoritário interdita a qualquer um a participar de uma conversa na qual não esteja envolvido diretamente.

Tornou-se comum esse argumento “politicamente correto” ao excesso. Assim fosse, ter-se-ia de acabar com a profissão de historiador (haveria algum sobrevivente do mundo antigo ou da Idade Média?); de analista internacional (quem já viveu em todos os países do mundo?); dos paleontólogos (algum homem, alguma vez, caminhou com os dinossauros?).

(Recebi ataques parecidos de “professores” devido ao artigo “Só a greve salva”, 18/2/2016.)

A pressão foi tão grande que a atriz voltou a escrever sobre o assunto e, sob o título “Mea culpa”, penitenciou-se: “Sou mulher e não gostaria de ser vista como inimiga desses movimentos”.

É uma pena a forma como Fernanda capitulou: reconhecer erros, ok, temer que uma opinião a ponha como “inimiga” das mulheres é um equívoco, jogando lenha na fogueira desses linchadores virtuais, que se encontram nos dois extremos do espectro ideológico e por isso se parecem.

(Da extrema-direita, por atuar na defesa dos direitos humanos, o deputado do Psol, Renato Roseno, vem recebendo as mais violentas e covardes agressões.)

PS. 1) Para ler os textos de Fernanda Torres: “Mulher” (http://migre.me/t7Rzf) e “Mea culpa” (http://migre.me/t7RzW). 2) A respeito do artigo da semana, atribuí a frase “Ou instaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos” ao Barão de Itararé. Três leitores me corrigiram: o verdadeiro autor é Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista Sérgio Porto. Agradeço a Antonio Vasques, Anchieta Silva e Paulo Limaverde.

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