Artigo para a editoria de Opinião do O POVO, edição de 12/5/2016.

O Big Bang e o pecado original
Plínio Bortolotti

Antes do Big Bang, encontrar-se-á a responsabilidade pela situação no modo de agir do Partido dos Trabalhadores que – a exemplo de um famoso ex-presidente, que pediu para desconsiderassem o que escrevera – esqueceu-se das promessas feitas quando era jovem, barbudo e rebelde.

Mas o pecado original – que atirou o país nessa algazarra na qual todos gritam e ninguém tem razão – foi o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, assentado sobre bases extremamente frágeis. Um impeachment que não teve origem nas “pedaladas” ou nos “créditos suplementares”, mas no inconformismo da oposição pela derrota nas urnas. Os rastros ainda são visíveis, basta segui-los.

A esse absurdo, somem-se outros, como o processo do impeachment na Câmara dos Deputados ser presidido por um “delinquente”, nas palavras do procurador-geral da República Rodrigo Janot, que pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o afastamento de Eduardo Cunha da presidência em dezembro de 2015. Para o procurador, Cunha liderava um grupo de parlamentares que se valia do mandato e das prerrogativas para “pressionar e intimidar terceiros”.

Somente no início de maio, o STF acatou o pedido do procurador, e suspendeu Cunha da presidência da Câmara, tomando outra decisão temerária em um regime democrático, sequestrando-lhe também o mandato. Se o STF houvesse agido tempestivamente, essa intervenção mais agressiva talvez fosse desnecessária – e a história do impeachment poderia ter sido outra.

E os desatinos continuam: o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, está sob ameaça de ser cassado, pelo seu próprio partido o PP, devido à decisão que ele tomou (depois suspensa por ele mesmo) de cancelar a sessão de impeachment.

Ora, qual foi o crime cometido por Maranhão – além da decisão que pode ser considerada errada, porém não criminosa – como são as acusações que pesam sobre Cunha, o pior de todos? E, para este, nenhum desses deputados teve a coragem ou a dignidade de pedir sua cassação.

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