Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, O POVO, edição de 5/1/2017.

Minas e os helicópteros

Rápido no raciocínio, desconcertante e com um toque de histrionismo, Leonel Brizola acossava os adversários nos debates televisivos, quando as regras eram menos engessadas. (A propósito, foi ele quem deu o apelido de “Angorá” a Moreira Franco, devido à cabeleira e à sua característica de “passar de colo em colo”.)

Mas, na campanha presidencial de 1989, Brizola encontrou adversário à altura, defrontando-se com Paulo Maluf, em debate na TV. Maluf estava com a palavra e Brizola insistia em interrompê-lo, chamando-o de “filhote da ditadura”, até que Maluf saiu-se com esta: “Desequilibrado. Passou quinze anos no estrangeiro e não aprendeu nada. O pior é que não esqueceu nada”.

Trazendo-se para o presente, pode-se dizer que, para o PT, vale a primeira frase do desabafo de Maluf – e o inverso da segunda. Depois do chamado “mensalão”, é de se admirar que integrantes do partido tenham persistido em considerar “recursos não contabilizados” prática de somenos importância e imaginar que a corrupção poderia ser justificada com o discurso social.

Porém, sobreveio a Lava Jato, espécie de “mensalão” sofisticado, seguida de manifestações de rua e o aumento da intolerância da população contra qualquer tipo de abuso.

Agora eles aprendem, imaginou-se. Aprendem? Ainda não.

O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) – enrolado em investigações da PF e com o Estado na pendura -, resolve usar o helicóptero do governo para buscar o filho em uma festa de réveillon. Pior do que o ato foi a justificativa. Pimentel apelou para um decreto assinado por Aécio Neves, quando era governador, para afirmar que nada fizera de ilegal.

Pode não ser ilegal, mas o governador perguntou-se se era ético ou moral o voo recreativo? Nunca lhe ocorrera anular o decreto – que permite usar a aeronave oficial como Uber de luxo -, em vez de locupletar-se com o erro de seu adversário?

PS. Falando em Minas e em helicóptero, como anda a investigação sobre a aeronave, propriedade dos Perrellas, apreendida com 445 kg de cocaína? Zezé Perrella (PTB) é senador e seu filho Gustavo Perrella assumiu a Secretaria Nacional do Futebol no início do governo Temer.

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