Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 9/2/2017 do O POVO.

“Solução Michel”

No artigo da semana passada, escrevi o seguinte: “A esperança do presidente (Michel Temer) é que depois de nomeado o novo relator (da Lava Jato, no STF), a temperatura baixe alguns graus e ele possa indicar um ministro um pouco mais sensível às dificuldades que fatalmente terá de encarar quando vier a público a delação dos 77 executivos da construtora Odebrecht”. A indicação do titular da Justiça, Alexandre de Moraes, tucano de carteirinha, confirma a análise do artigo anterior.

O tema surgira a propósito da fala de um advogado no programa Debates do Povo (que apresento na rádio O POVO/CBN) classificando Temer de “grande jurista”, por ter abdicado de indicar o novo integrante do Supremo Tribunal Federal enquanto a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, não nomeasse o relator da operação Lava Jato.

Essa indicação política ao STF (melhor seria dizer politiqueira) casa-se perfeitamente com o que confessou o senador Romero Jucá na gravação em que Sérgio Machado flagrou – em plena nudez – figuras do atual governo: qual seja, a proposta da “solução Michel” para “estancar a sangria” da Lava Jato.

A fórmula do golpe que afastou Dilma Rousseff da Presidência – a “solução Michel” – foi citada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no pedido de instauração de inquérito que ele enviou, no início desta semana, ao STF contra o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, por obstrução à Lava Jato.

Ao tempo em que mandou seu indicado preservar-se (quando ele abre a boca é um perigo), Temer orientou correligionários a destamparem a caixa de louvores a Alexandre de Moraes. O próprio presidente saiu a campo para declarar que “não houve críticas, só elogios” a Moraes. Críticas houve (muitas), mas temer só ouve o que lhe interessa.

Com a esmagadora maioria de senadores à sua disposição, Temer não terá problema para impor o nome de Moraes.Talvez lhe fique uma nódoa no currículo, mas quem se importa com um respingo quando já está todo borrado?

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