Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião do O POVO, edição de 9/3/2017.

O mamulengo e a mão do mercado

O processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o típico caso do feitiço virando contra o feiticeiro. Com a avalanche de notícias policiais que tomou conta do noticiário político, talvez pouca gente se lembra ter sido o PSDB que abriu os processos no TSE contra a chapa Dilma/Temer no TSE – nos idos de 2014 – alegando irregularidades nas contas.

Os tucanos veem agora um de seus próceres, Aécio Neves, enredado na teia que eles mesmos iniciaram. E, além disso, Michel Temer que à época era adversário a ser combatido e defenestrado do cargo de vice, junto com a titular Dilma Rousseff, hoje é amigo do PSDB – desde criancinha.

A segunda etapa do feitiço é que o processo poderá derrubar Temer, levando de roldão o PSDB, principal fiador do governo. A propósito o “poderá” é bem posto, pois com recursos e mais recursos, o PMDB pretende empurrar o julgamento para o próximo ano, quando deverá entrar em campo a turma do deixa-disso, pois estará perto do fim de seu governo.

Outra possibilidade de a queda do balouçante Temer ficar apenas no terreno das possibilidades abstratas seria a fabricação mais uma gambiarra jurídica, entre as várias já patrocinadas por tribunais ditos superiores: separar as contas da presidente e do vice, de modo a jogar um bote salva-vidas para Temer.

Somente os muito ingênuos e os muito espertos podem acreditar que se pode separar o inseparável. Ora, se houve irregularidades na arrecadação de recursos, as ilicitudes beneficiaram a chapa – e não apenas um de seus componentes. Não se trata, portanto, de saber quem cometeu o malfeito, mas (se for provado) que o dinheiro sujo deu vantagem indevida aos vencedores da eleição.

Portanto, o mais provável é que Temer siga como um pato manco até o fim do governo, pois – independentemente da sua indigente popularidade – ele é o mamulengo na “mão invisível(?) do mercado” – e o serviço espúrio ainda precisa ser concluído.

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