Reprodução dos artigo publicado na editorial de Opinião, edição de 13/4/2017 do O POVO.

“Daqui a pouco” tudo estará melhor

A divulgação do nome dos 108 políticos os quais o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou ao Ministério Público Federal investigá-los, provocou ofensiva do governo federal, em várias frentes, para dizer que tudo vai muito bem nesse nosso Brasilzão. Hoje melhor do que ontem e amanhã melhor ainda do que hoje.

Alvejado em cheio, com oito ministros e dezenas de aliados sob investigação, o governo precisa provar que está respirando e pronto para manter o país na bitola exigida pelo “mercado”.

O inefável Romero Jucá, líder do governo no Senado, desdenhou do problema, considerando “natural” fazer parte de uma lista de transgressores, afirmando que o governo “não parou e nem vai parar”.

Presidente Michel Temer, o da “imunidade temporária”, faz coro com Jucá, sob o refrão de que “nada” poderá deter o governo, acenando com “modernização da legislação trabalhista” e a reforma da Previdência. Ainda acrescentou não haver “fato novo” – e isso é preocupante, pois se já sabia da gandaia dos aliados, deveria ter escolhido melhor os seus ministros.

Até o discreto Henrique Meirelles foi convocado para o esforço concentrado, publicando um vídeo (inédito partindo dele) afluindo otimismo. Diz o ministro da Fazenda que o déficit das contas públicas vai cair de R$ 154 bilhões em 2016 para R$ 129 bilhões em 2018. E que “daqui a pouco vai ter superávit”. O “daqui a pouco” é um indefinido “2019, 2020”, quando as empresas voltariam a lucrar, o desemprego cairia e haveria “melhores resultados para todos”.

Em meio a um Ministério que inspira desconfiança, Meirelles é hoje uma espécie garantidor do governo. Além da competência técnica (sem entrar no mérito do remédio prescrito), nenhum dos integrantes da equipe econômica está envolvido nos malfeitos que maculam a imagem do governo.

Se tudo acontecer como Meirelles espera, a alternativa do “mercado” para disputar a Presidência em 2018 seria ele mesmo, e não o seu chefe.

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