Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 8/6/2017 do O POVO.

O covarde e os censores
Plínio Bortolotti

As redes sociais ferveram depois de o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ter mandado o “humorista” Danilo Gentili retirar do ar vídeo no qual ofende a deputada Maria do Rosário (PT-RS). O desembargador Túlio Martins justificou a ordem escrevendo que o vídeo “é de natureza misógina, representando agressão despropositada a uma parlamentar e às instituições, materializando-se virtualmente em crime (…)”.

Muitos militantes da esquerda aplaudiram com entusiasmo a decisão do desembargador. Vou reproduzir apenas um dos argumentos, do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), que resume a maioria deles. Para o deputado, a decisão do magistrado foi “justa” e “põe um necessário limite ao ódio e à misoginia como armas políticas”, postou no Facebook.

No vídeo – depois de receber notificação extrajudicial pedindo para apagar postagens ofensivos à Maria do Rosário e sua filha -, Gentili rasga o documento, esfrega na genitália e o devolve, via Correio, com um recado à deputada: “Sinta o cheiro do meu saco e abra a bunda”.

Claro que Gentili é estúpido, misógino e covarde. Porém, isso não constitui motivo para censura. A esquerda precisa aprender que “não há nem bom nem mau uso da liberdade de expressão (…) a absoluta tolerância com todas as opiniões deve ter por fundamento a intolerância absoluta com todas as barbáries”.*

Ao pedir censura ao imbecil do Gentili, a esquerda se rebaixa, montando uma armadilha na qual ela própria vai se enredar. Temer, por exemplo, não gosta dos memes ridicularizando-o. Foi, justificadamente, malhado quando tentou impedir a disseminação de piadas com sua imagem nas redes sociais. E se um juiz proibisse os memes, alegando “agressão despropositada ao presidente da República e às instituições”, o que a esquerda diria?

A propósito, a prova que Gentili é covarde, virá agora: ele não terá coragem de repetir com o documento da Justiça o que fez com a correspondência da Câmara dos Deputados. E, menos ainda, de dirigir-se ao desembargador nos mesmos termos usados contra Maria do Rosário.

PS. *1 – No livro “Nada é sagrado, tudo pode ser dito”, Raoul Vaneigam. 2 – Qual o limite da liberdade de expressão?

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