Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, O POVO, edição de 14/3/2019

Quem deu a ordem para puxar o gatilho?

É compreensível a atitude do delegado Giniton Lages, responsável pela investigação do assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, quando evitou garantir que haveria um mandante do crime. Seu tipo de trabalho exige a prudência de só fazer afirmações com dados suficientes para sustentá-las. Ele não teve dúvida, por exemplo, ao apontar como executores do crime o PM reformado Ronnie Lessa (atirador) e Élcio Queiroz (o motorista do veículo de onde partiram os tiros), ex-policial militar.

Se o delegado, por dever de ofício, deve ser prudente, nada impede que se duvide que o assassino tenha agido de moto-próprio, apenas por “motivo torpe”, isto é, devido à atuação política da vereadora, que teria despertado a ira do policial. De alguns setores virá a inevitável acusação: “O que você entende de investigação?” Entendo alguma coisa como jornalista e nada como policial; porém, de qualquer forma, não me sentiria impedido de opinar.

Mas vou convocar Raul Jungamnn, pois, devido a função que exerceu – ministro da Segurança do governo de Michel Temer -, está mais apto a dar opinião, pois acompanhou o assunto de perto. Foi ele quem disse, em novembro do ano passado, que “políticos poderosos”, agentes públicos e milicianos, estavam por trás do assassinato de Marielle. Foi também, nesse período que a Polícia Federal foi acionada para “investigar os investigadores”, devido a suspeitas de que o caso não estava sendo levado a contento.

Portanto, a “segunda fase” da operação tem de responder às seguintes perguntas: 1) Quem é o mandante do crime? 2) Quem é o responsável pelo vazamento das informações? 3) Qual a relação de Lessa e Queiroz com o “Escritório do Crime”, que levou aos nomes dos milicianos, major PM Ronald Paulo Alves Pereira e de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Bope?

Em vez de uma “Lava Jato” para a educação, o que se precisa é de uma CPI para passar um pente fino na polícia do Rio e investigar as milícias em todo o país, um poder criminoso-político, que está minando as instituições e desafiando o Estado.

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