Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 9/5/2019 do O POVO.

“Ações da Taurus disparam…”

Ao digitar essas palavras ontem, no Google, tive como retorno várias manchetes de jornais e portais informando quem vai ganhar com a liberação do porte de armas, devido ao decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro: a Taurus, a maior fábrica de armas de pequeno porte do País e uma das maiores do mundo.

A divulgação inicial da proposta afirmava que o decreto iria apenas facilitar o porte para atiradores esportivos e colecionadores de armas. No entanto, a informação escondia o verdadeiro objetivo, decidido à socapa: uma espécie de liberou geral para o porte de armas: 20 novas categorias ganharam o direito de andar com um revólver ou com uma pistola na cintura, entre elas os políticos eleitos, caminhoneiros, residentes em áreas rurais e jornalistas (Sugiro que representantes da categoria rejeitem o “privilégio”.)

Quanto a “residentes de áreas rurais”, o sinônimo é armar fazendeiros – cujo resultado pode ser o aumento da violência nos interiores. É difícil que um empregado do campo tenha condições de comprar um revólver.

Mas, como várias medidas do governo Bolsonaro, essa também foi tomada na base da orelhada do “ouvir dizer”, a exemplo da retirada de radares das ruas e estradas para que os motoristas voltem a ter “o prazer de dirigir”, segundo o presidente.

A equação “mais armas, mais mortes”, repetida por importantes estudiosos do assunto, não foi levada em conta pelo presidente. Bolsonaro governa apenas para os seus eleitores mais truculentos, cujo habitat são as redes sociais, onde criam uma realidade paralela, na qual os fatos são detalhes a serem desprezados e o conhecimento não é páreo para a ignorância atrevida.

Além disso, a medida desmonta ilegalmente o Estatuto do Desarmamento, que em seu artigo 6º proíbe o porte de armas de fogo em todo o território nacional, “salvo os casos previstos em legislação própria”. Ou seja o Executivo não pode decidir, por decreto, pela ampliação do porte de armas, pois essa é tarefa própria do Legislativo.

A propósito, além da Taurus, tiveram forte alta também as ações da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC). As empresas bélicas agradecem.

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