Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião do O POVO, edição de 28/11/2019.

Cúmplices do governo Bolsonaro

Até agora boa parte dos apoiadores de Jair Bolsonaro alegavam defender apenas as medidas econômicas do governo. Estariam por isso desvinculados de sua grotesca orientação política de ataque à educação, à cultura, à diversidade, à arte, à imprensa – à democracia, enfim. A violência verbal de Bolsonaro era apresentada apenas como um palavrório inócuo, um preço até baixo a se pagar pelo que prometia o “Chicago Old” Paulo Guedes e sua equipe de expertos.

Alguns poucos, suspeito, assumiram o argumento sinceramente iludidos, acreditando ser fosse possível a uma serpente, com uma cabeça em cada extremidade do corpo, chegar a algum destino com um dos lados rastejando em sentido oposto ao outro. Já os espertalhões, “mercado” incluído, sabiam muito bem que Bolsonaro e Guedes eram complementares: as elites podem ser tudo, menos burras, no mister de “fazer dinheiro”.

Portanto, nenhuma surpresa ao ver Paulo Guedes associar-se explicitamente à escalada autoritária promovida pelos Bolsonaros – por enquanto contida pelas instituições e pelas forças democráticas -, mas que já se faz sentir em segmentos nos quais a Presidência tem autoridade direta.

Paulo Guedes associou-se ao deputado Eduardo Bolsonaro e ao general Heleno (chefe do Gabinete de Segurança Institucional) nas ameaças de impor um novo AI-5 no Brasil, para que ele possa impor a sua reforma, sem questionamentos, cuja lógica é “moer os trabalhadores mais pobres”, como escreveu em seu Twitter o jornalista Carlos Mazza. O modelo de Guedes é o Chile dos Chicago Boys que, sob os auspícios da ditadura de Pinochet, implementaram uma política antipovo, protegidos pela paz dos cemitérios.

Agindo como um Mister M de si mesmo, Paulo Guedes deixou cair a máscara, revelando que o governo tem apenas uma face – e é feia. Assim, quem continuar apoiando Bolsonaro terá agora de fazê-lo abertamente, sem desculpas, sabendo ser cúmplice de um grupo de extrema direita, que tem como objetivo implantar um governo autoritário no Brasil.