Reprodução do artigo publicado na edição de 26/3/2020, editoria de Opinião do O POVO.

Bolsonaro, o advogado dos rentistas

Quando se trata da crise do coronavírus, em quem você acredita? No presidente da República, Jair Bolsonaro; no vice, Hamilton Mourão ou no ministro da Saúde, Henrique Mandetta?

Bolsonaro vem atacando com com violência o distanciamento e o isolamento social, recomendado por médicos e cientistas de todo o mundo como forma de contenção da Covid-19. Mourão diz que “a posição do governo é uma só: o isolamento social”, afirmando que o presidente “não se expressou bem” ao condená-la. Mandetta age como se estivesse desviando dos tiros, porradas e bombas lançadas pelo presidente, tentando conciliar as declarações estapafúrdias de seu chefe às medidas que seu Ministério vem implementando.

O fato é que, independentemente da política a ser implementada, o governo perdeu a capacidade de liderar qualquer iniciativa de enfrentamento à epidemia. Antes, tornou-se um obstáculo para aqueles que estão na linha de frente trabalhando para minorar o sofrimento dos brasileiros.

No momento em que escrevo este artigo, divido a atenção com uma entrevista do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Ele reconhece que os investidores vêm fazendo grande pressão devido a perdas na Bolsa de Valores. Por isso querem suspender o isolamento, supondo que, assim, os índices passe a subir. Maia lembra que a Bolsa é investimento de risco, em que se pode ganhar ou perder. E que hora é de socorrer as pessoas e não os rentistas. Está mais do que certo.

Entende-se, portanto, a ânsia de Bolsonaro em pôr todo mundo na rua para trabalhar, mesmo em circunstâncias perigosas. Verifica-se que a preocupação dele não é com os trabalhadores autônomos e informais. Na verdade, está agindo como advogado dos rentistas e dos banqueiros.

Se esse fosse um governo sério, estaria trabalhando para preparar um amplo pacote de benefícios que atendesse a todos (mas todos mesmo) os brasileiros sem condições de atravessar essa quadra sem auxílio. Ao mesmo tempo, trataria de abrir linhas de crédito a juros baixos, com carência ou a fundo perdido, entre outras medidas, para atender as empresas, principalmente as micros, pequenas e médias.

Porém, duvido.

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