Cardeal John Henry Newman (1801-1890)

Conduze-me, doce Luz, no meio da escuridão; conduze-me avante. São densas as trevas da noite, e eu estou longe de casa. Eu invoco teu socorro, conduze-me! Vela por meu caminho. Não te peço que me descortines o horizonte distante, um só passo à frente me basta. Houve tempo em que não era assim, quando eu não te implorava que me conduzisse. Eu mesmo queria escolher o caminho a percorrer. Mas agora te peço: dirige-me!  Eu amava o sol dardejante e era levado pelo orgulho. Não te recordes dos dias passados! Estou certo de que me conduzirás em meio a pântanos e lodaçais, penhascos e torrentes, até que a luz do dia volte a brilhar. No despertar da aurora, a face dos anjos, há muito tempo procurada, mostrar-se-á, mas por ora nada disso vejo.

John Henry Newman

[Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução de Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 26].

A primeira vez que vi uma referência a John Henry Newman, ou, como é também conhecido, o Cardeal Newman, foi há dez anos, quando comecei a pesquisar sobre o chamado Deuteros plüs, ou segunda conversão, tema sobre o qual venho estudando e coletando material bibliográfico desde então, objetivando escrever um livro que deverá ser publicado no segundo semestre de 2010. Vi que o cardeal Newman certamente teria o que dizer sobre o assunto, uma vez que passou pelo processo de conversão aos 44 anos de idade.

Nascido em 1801, na Inglaterra, John Henry Newman graduou-se na Universidade de Oxford, onde foi tutor e pregador. Oriundo da Igreja Anglicana, exerceu sobre essa grande influência, tendo se convertido ao catolicismo em 1845.

Foi igualmente influente na Igreja Católica. Isso se faria notar especialmente durante o Concílio Vaticano II, que chegou a ser chamado de o ‘Concílio de Newman’. Em 1879, o papa Leão XIII o fez cardeal. Deixou uma vasta obra, compilada em 1981 perfazendo um total de 31 volumes divididos em: a) Sermões; b) Tratados; c) Obras teológicas; d) Obras polêmicas; e) Obras literárias; f) Obras póstumas; g) Correspondência. A propósito de sua correspondência, saliente-se o valor especial atribuído pelo Cardeal a esta forma de comunicação, tendo sido preservadas 20.000 cartas das muitas que redigiu.

Escrevendo sobre o Cardeal, afirmou o Dr. Nelson Rivera Garcia, professor Assistente de Teologia Sistemática no Lutheran Theological Seminary at Philadelphia: “Newman foi uma figura pública controvertida, que causou revolta por suas idéias ecumênicas. Sua vida se dividiu entre seu anglicanismo e seu posterior catolicismo. Em ambos contextos, Newman fez uso das idéias protestantes como a justificação pela fé, além da importância que atribuiu à exposição bíblica e à pregação. Por isso e mais, foi considerado por alguns (por exemplo, Jaroslav Pelikan) como o mais importante pensador teológico da modernidade” (verbete: Newman, John Henry. Em: González, Justo L. (editado por). Dicionário ilustrado dos intérpretes da fé. Tradução de Reginaldo Gomes de Araújo. – Santo André, SP: Editora Academia Cristã Ltda., 2005, p. 491).

Faleceu em 1890, em Birmingham. Antes de morrer, o Cardeal Newman pediu que fizessem esculpir na lápide de seu túmulo a seguinte inscrição, da qual gosto imensamente, mas imensamente mesmo, pelo grande valor simbólico que tem para mim: Ex umbris et imaginibus ad veritatem, que quer dizer: “Das sombras e imagens até a verdade” (citado em: Santidrián, Pedro R. Breve dicionário de pensadores cristãos. Tradução de Laura Nair Silveira Duarte. – Aparecida, SP: Editora Santuário, 1997, p. 416).

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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