A vida de oração mariana nos alcança pouco a pouco – uma alma e uma vida “mariformadas”, conforme a ideia preferida pelos contemplativos do Carmelo – e por Monfort, por seu turno. O que nós citamos a respeito dele resumia já o essencial disso. No século XVII, o carmelita Miguel de Santo Agostinho escreveu um livro intitulado: Vie mariformée em Marie, pour Marie. O Pe. Laurentein apresenta-o assim: “ … Disse que esta vida mariformada é uma vida em conformidade com a vontade de Maria. Para viver em Maria é preciso ´esforçar-nos´ por conservar e aumentar em nós uma conversação filial, afetuosa e inocente da alma, uma respiração amorosa para Maria… de maneira que o amor para com ela e por ela seja um suave fluxo e refluxo. Viver por Maria ´e consumir suas forças a fim de que Maria seja, em todas as coisas, honrada, glorificada e amada; que seu reino seja promovido no reino de seu Filho Jesus´. Esta vida atinge sua perfeição quando a alma se deixa formar e animar pelo espírito de Maria até ser transformada nela, de maneira que Maria vive e tudo faz nela”.

Pe. Daniel Lacouture

[Lacouture, Pe. Daniel. Mais Mãe que Rainha. Tradução José Joaquim Sobral. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 2003, p. 51.]

Folheando o pequeno livro do Pe. Daniel Lacouture, Mais Mãe que Rainha, duas coisas me chamaram atenção. Primeiro, o título do livro, inspirado em palavras de Santa Teresinha do Menino Jesus, conforme cita o autor: “Sabe-se bem que a Santíssima Virgem é a Rainha do Céu e da terra, todavia ela é mais Mãe que Rainha…! É preciso torná-la amada…!  Oh! Como eu amo a Virgem Maria!” (Novissima Verba, 23 de agosto de 1897). Para quem leu o texto postado ontem neste blog, não deixará de perceber uma curiosa sincronicidade, uma vez que encontrei este livro exatamente na semana em que me dedicava à Oração a Santa Teresinha do Menino Jesus.

O segundo aspecto que me causou especial interesse foi o título que o autor atribui ao capítulo que conclui o livro, Uma vida mariformada. Esse vocábulo, mariformada, o Pe. Daniel encontrou em uma apresentação feita por um outro padre, o Pe. Laurentin, a um livro de autoria do carmelita Miguel de Santo Agostinho, que emprega a palavra em francês, mariformée. Pensar na possibilidade de uma vida mariformada – ou seja, formada, moldada por Maria -, me causou imenso prazer. Pois bem, em que consistiria, pois, ter uma vida mariformada?

Desde que decidi me dedicar de forma um pouco mais sistemática ao estudo da mariologia, tenho percebido que são imensas as possibilidades de mudança proporcionadas a uma vida que se deixa, ainda que de forma muito tímida, como é o meu caso, conduzir por Maria. Uma vida mariformada ancora-se em três pilares: 1. assumir a Virgem Maria, que incondicionalmente deu o Sim a Deus, como modelo a ser imitado; 2. acercar-se de Maria munido do propósito de tê-la como suprema intercessora e advogada diante de seu Filho, Jesus Cristo; 3. cultivar a prática diária da oração.

No mais, tudo que nos resta é confiar incondicionalmente nesta mulher extraordinária que, em que pese ser a Rainha por excelência, é, não menos que isso, a Mãe por excelência de todos os viventes que assumiram como perspectiva de vida o seguimento de seu Filho, Jesus Cristo, como mestre e anelo de sua existência.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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