Já na minha infância e juventude, professava uma cordial devoção a Maria santíssima. Oxalá tivesse agora a devoção de então! Valendo-me da comparação de Rodríguez, sou como aqueles criados velhos das casas dos grandes que quase não servem para nada, considerados como trastes inúteis, conservados na casa mais por compaixão e caridade que pela utilidade de seus serviços. Assim sou eu no serviço da rainha dos céus e da terra: por pura caridade e misericórdia me aguenta (…).

Santo Antônio Maria Claret

[Claret, Santo Antônio Maria. Autobiografia. Edição para língua portuguesa (Brasil) preparada por Brás Lorenzetti, Oswair Chionzini. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 2008, p. 63.]

Onde quer que eu esteja se vejo alguém usando uma medalha de Nossa Senhora já é motivo suficiente para que eu veja ali um amigo ou irmão. A simpatia é imediata pelo puro e simples fato do uso da medalha. Acho que faço automaticamente o raciocínio de que, se temos uma mãe comum, no caso, Nossa Senhora, somos irmãos. E não têm sido poucas as vezes em que ouso mesmo me aproximar da pessoa e iniciar uma conversa tendo como pretexto aquela devoção. Na maioria das vezes minha tentativa de entabular um diálogo tem sido bem acolhida.

Essa devoção surgiu em mim espontaneamente ainda na infância. Lembro que muito cedo adotei a prática de quando ia dormir sentar na rede e rezar três  Ave Marias para Nossa Senhora. A mesma devoção eu tinha também por Dom Bosco, mas da origem dessa falarei em outra ocasião.

Rezar aquelas três Ave Marias me dava a convicção de que, o que quer que me acontecesse e onde quer que eu me encontrasse, estaria sob a proteção de Nossa Senhora.  Mantive essa prática até quase o início da idade adulta. Com o passar do tempo, outras devoções foram se somando, mas nunca deixei de ser um devoto da Virgem Maria.

Quando adquiri um apartamento próprio, ao planejar uma estante para o aposento onde instalaria minha biblioteca e meu gabinete de estudos, a primeira coisa que fiz foi destinar um espaço especial para uma imagem de Nossa senhora das Graças, aos pés da qual nunca falta uma vela acesa, a menos que estejamos viajando, quando não fica ninguém em casa.

Também adquiri há mais de cinco anos uma dessas velas de vidro que têm no lugar do pavio uma luzinha amarela. Adorna-a uma efígie de Nossa senhora do Perpétuo Socorro. Essa tem permanecido sempre acesa desde então, nunca sendo desligada da tomada.

Com o tempo fui adquirindo também uma predileção especial pela recitação do terço. Procuro me manter na mais absoluta concentração enquanto o faço. Recitar o terço foi uma das melhores formas que encontrei até o momento de me centrar. Durante essas recitações, em diversas ocasiões me têm ocorrido ótimos insights em ocasiões em que tenho que tomar uma decisão ou solucionar um determinado problema . 

Tenho terços de diversos tipos e um dos meus projetos é, um dia, organizar um espaço destinado ao estudo das religiões onde eu possa ter um ambiente especialmente dedicado a Nossa Senhora, onde exporei suas imagens e a coleção de terços, além dos livros sobre mariologia.

Apesar desse fascínio pela figura de Nossa Senhora, nem sempre tenho sido um bom devoto, sei-o muito bem. Tantas vezes tenho sido relapso em minhas orações… Mesmo assim, como mau filho, muitas vezes ingrato, vou seguindo na certeza de que, de alguma forma, sua bondade é suficiente para acolher entre seus devotos um filho tosco e destrambelhado como eu, que na maioria das vezes não tem correspondido adequadamente às graças que tem recebido.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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