“Cumpriam-se os 21 dias. Vim para me despedir.”

Ergui os olhos, e vislumbrei, surpreso, a familiar figura de Dom Cristiano postado à minha frente.  Tão absorto me encontrava na leitura do Diário Filosófico, quem nem percebera sua chegada.  Ignorando minha surpresa, continuou:

“Estou me despedindo. Não mais retornarei. Não lhe sou mais necessário, Vasco. Agora você já sabe o que deve fazer e a trilha que deve seguir. O resto é com você”.

Suas palavras foram incisivas, claras, as frases pausadas, parece que tinham sido deliberadamente programadas.

Depois da última frase, ergueu a mão e sumiu. Fiquei atônito, sem entender bem o que acontecia. Aquela despedida abrupta me provocou sentimentos  díspares e confusos, deixando-me atordoado.

Era como se tivesse levado uma grande pancada na cabeça. Senti o mundo girar. Estava tonto. Uma vertigem tomou conta de mim. Parece que eu tinha sido precipitado para fora da cadeira em que me encontrava sentado e jogado no chão. Era como se eu tivesse sido empurrado para fora de mim mesmo.

Depois, quando me senti reposiocionado na cadeira, a familiaridade do ambiente me acalmou. Senti vontade de chorar. Mas não o fiz. Não, não havia motivo para choro.  Sabia que algo estava irremediavelmente perdido, mas isso não era motivo para lamentos. Na verdade, talvez fosse, isso sim, motivo para comemorar.

Mudar é preciso.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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