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Vasco Arruda

Não busco nos livros senão o prazer de um honesto passatempo; e nesse estudo não me prendo senão ao que possa desenvolver em mim o conhecimento de mim mesmo e me auxilie a viver e morrer bem, “essa meta para onde deve correr o meu corcel”.
Michel de Montaigne
[Montaigne. Ensaios. – Tradução, prefácio e notas linguísticas e interpretativas de Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d. Livro Segundo, Cap. X – Dos livros, p. 321.]

Vasco Arruda

Então o espírito da profundeza abriu meus olhos, e eu observei as coisas interiores, o mundo de minha alma, multiforme e mutável.
(…)
Estou perplexo, mas quero estar perplexo, pois jurei, minha alma, confiar em ti, mesmo que me conduzas através de ilusões. Como tornar-me participante de teu sol, se não beber a amarga poção sonífera e não bebê-la até o fim? Ajuda-me a não me afogar no próprio saber. A totalidade de meu saber ameaça cair sobre mim. Meu saber tem uma multidão de falantes com voz de leão; o ar treme quando eles falam, e eu sou sua vítima indefesa. Afasta de mim o esclarecimento inteligente, a ciência, aquele carcereiro mau que amarra as almas e as tranca em celas sem luz. Mas protege-me sobretudo da serpente do julgamento, que é uma serpente terapêutica só da superfície, mas em tua profundeza é veneno infernal e morte cruel. Eu gostaria de descer para tua profundeza como puro, com veste branca, e não chegar apressado como um ladrão, roubar e fugir sem fôlego. Deixa-me perseverar no assombro divino, para estar pronto a contemplar tuas maravilhas. Deixa-me deitar minha cabeça sobre uma pedra diante de tua porta, a fim de estar pronto para receber tua luz.
[Jung, C. G. O Livro Vermelho: Liber Novus. Editado por Sonu Shamdasani; prefácio de Ulrich Hoerni; tradução: Liber Novus, Edgar Orth; introdução, Gentil A. Titton e Gustavo Barcellos; revisão da tradução, Walter Boechat. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010; Cap. V. Descida ao inferno no futuro, p. 237-238.]