Quem não ousar fixar o olhar em Jesus, o Homem-Deus, que pela divindade está infinitamente acima dos homens, tem  junto de si Maria, Mãe de Deus e nossa; criatura privilegiada, mas simples criatura como nós e mais acessível à nossa pequenez.

A Bem-Aventurada Virgem, “invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protetora, Medianeira” (LG 62), vem ao nosso encontro para nos conduzir ao Filho, para nos facilitar o caminho da santidade, introduzindo-nos no segredo da própria vida interior e tornar-se, assim, depois de Jesus e subordinadamente a ele, o caminho, o modelo e a norma de nossa vida.

Gabriel de Sta. Maria Madalena

[Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D. Intimidade Divina. – 5ª. ed. – Revisão: Silvana Cobucci e Paulo César de Oliveira. São Paulo: Loyola, 2010, p. 360.]

Argumentos racionais não têm a força necessária para abalar convicções brotadas da experiência. Foi isso o que pensei outro dia ao ouvir um teólogo que, munido dos mais sofisticados argumentos, investia toda sua verve no afã de criticar algumas manifestações de devoção a Nossa Senhora.

Há momentos, porém, que os argumentos teológicos parece que só servem para promover acalorados debates em congressos e simpósios, pois, na prática, nenhum efeito produzem. A premissa, creio, aplica-se à questão da devoção mariana.

No meu caso particular, um dos motivos que me fazem professar a religião católica é a impossibilidade de viver sem a devoção a Maria. Na verdade, tentei muitas vezes, mas não consegui. Nada é tão presente em minha vida quanto essa devoção. Não se trata, no caso, de uma devoção voltada para promessas e pedido de favores. É também isso, mas não só.

Para quem busca ainda a conversão, como é o meu caso, trata-se muito mais da certeza de que na devoção a Maria encontra-se um caminho seguro para o acesso a Cristo. Diante disso, porém, alguém poderá objetar: e por que não ir diretamente a Cristo, sem intermediários?

Confesso que me faltam argumentos ou motivos plausíveis para responder à objeção. Talvez seja porque para alguns pessoas essa intermediação seja, muito mais que necessária, indispensável. Creio que isso tenha muito a ver com as peculiaridades e idiossincrasias de cada pessoa.

O fato é que Maria revela uma doçura, uma delicadeza, uma bondade e uma prontidão em se mostrar atenta aos deslizes e dificuldades daqueles que a ela recorrem em busca de uma orientação em sua jornada rumo ao porto seguro que é Cristo, que de outra forma se tornaria muito mais difícil a travessia.

Maria é o farol que ilumina a jornada. Quando as procelas se abatem e as ondas ameaçam fazer naufragar o barco, lá está ela, aquele facho de luz que assoma como que por milagre apontando a direção, ao mesmo tempo em que faz amainar a tempestade. E assim nos sentimos seguros, certos de que podemos prosseguir a jornada sem risco de extravio.

O argumento, reconheço, é pobre, mas só posso afirmar isso: é assim porque é assim. Sem o amparo seguro de Maria eu já teria desistido. Mas ela insiste e, nos momentos de maior abatimento, fala diretamente ao coração de seus filhos, mesmo que estes, como eu, nem mesmo sejam merecedores de seu amparo, e sussurra: “Prossegue, meu filho, eu velo por ti, pois o Mestre espera que eu te conduza a ele”.    

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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