O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Afonso Romano de Sant’Anna

[Sant’Anna, Afonso Romano de. “Antes que elas cresçam”. http://www.releituras.com/arsant_antes.asp]

Quem tem lido os textos postados neste blog sabe que, aos sábados, tenho por hábito escrever sobre Nossa Senhora. Quase sempre resenho ou comento trechos de um livro sobre Maria. Pois bem, esta manhã, planejando escrever um texto sobre este 26 de julho em que se comemora o Dia dos avós, pensei: como vou falar sobre este assunto, se tenho por propósito aos sábados escrever somente sobre Nossa Senhora?

Enquanto ponderava a questão, ocorreu-me que hoje se comemora esta data exatamente porque, neste dia, a igreja católica celebra a festa de São Joaquim e Santa Ana, os pais de Maria e avós de Cristo, daí o motivo da escolha da data para homenagear os avós.

Dirigi-me à estante e peguei o livro “Os Santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente” para ler sobre os santos do dia. No texto sobre São Joaquim e Santa Ana, escreve o autor: “Embora o dia 26 de julho – quando as crianças estão em férias e os avós permanecem frequentemente sozinhos em casa – não se preste a profícuas manobras consumistas, há quem proponha essa data como festa dos avós. E, além de Ana e Joaquim, quem pode ostentar melhores títulos?” (Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003,p. 421).

No trecho citado acima, o autor indaga sobre quem, além de são Joaquim e santa Ana, pode ostentar melhores títulos que o de avós. É que eles foram avós de ninguém menos que Jesus Cristo. De fato, que título maior que este alguém poderia ostentar?

Pois o que me motivou a escrever hoje sobre este tema foi o fato de que, em breve, eu e Naza, minha esposa, também ostentaremos o título de avós. Desde que Indira, nossa filha, nos deu a notícia, tenho refletido muito sobre o assunto, para mim uma grande novidade. O fato é que essa novidade já vem me movendo a atitudes que começam a deslocar o meu centro de interesses.

Sábado passado, de repente me encontrava no lançamento de um livro infantil, publicado por um grande amigo, Raymundo Netto. Pedi-lhe que o oferecesse “para o Marcelo, o meu neto, que está a caminho”, informei, emocionado. Ao receber o livro, li a carinhosa dedicatória do autor: “Para Marcelo, com o desejo de uma vida de ótimas leituras. Já és sortudo pelo avô que tens”.  Meu Deus!, exclamei para mim mesmo, que responsabilidade! Que sorte é essa, já imputada ao Marcelo pelo simples fato de ser meu neto?

Deixando de lado a generosidade do Raymundo Netto por escrever tais palavras, ainda assim não pude deixar de passar a semana seguinte pensando no assunto. Agora uma grande responsabilidade me fora atribuída. O meu neto vai nascer, em breve. Caberá a mim naquilo que me for possível, tratá-lo de forma que, um dia, ele possa dizer de mim: “Sou feliz pelo avô que tenho”.

Lograrei sucesso nesse intento? Nada posso garantir, por enquanto. Não posso precisar de antemão que tipo de avô serei. Digo, porém, que, se é verdade o que afirma Afonso Romano de Sant’Anna, posso afirmar que muito afeto e carinho não haverão de faltar ao Marcelo. Peço, pois, a São Joaquim e Santa Ana que se dignem conceder, a mim e à Naza, as bênçãos e graças necessárias para sermos bons avós. E que sua dileta filha, a Virgem Maria, cumule de muitas e venturosas bênçãos o Marcelo e seus pais, Indira e Márcio.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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