Ó Senhora, que tua luz possa ser o esplendor em minha face e que a serenidade de tua graça brilhe em minha mente.  / Levanta minha cabeça, e eu cantarei salmos ao teu nome. / Não escondas tua face de mim, pois desde minha juventude almejei conhecer tua beleza e graça. / Amei a ti e busquei por ti, ó Rainha do Paraíso. Não retire tua misericórdia e graça deste servo. / Darei louvores a ti em todas as nações e honrarei o trono de tua glória.

São Boaventura

[São Boaventura. Saltério à Virgem Maria. Tradução de Marcelo Mercante. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 2015, Salmo 26, p. 41.]

Um tesouro, preciosíssimo e de raro valor, para os devotos de Nossa Senhora, é o mínimo que se pode dizer do livrinho Saltério da Virgem, de autoria de São Boaventura. Quando o tive pela primeira vez em minhas mãos, ali mesmo na livraria, enquanto o folheava, lendo aleatoriamente passagens dos salmos que o compõem, comecei a sentir um crescente enlevo, ao contato com tão belos cantos e louvores dedicados à Virgem Maria.

Sim, pois um saltério é isso, uma compilação de cantos, conforme explicado no Prefácio: “A palavra salmo tem sua origem do grego, textualmente significa música. Os judeus nos deixaram esse legado de fé; na alegria, na dúvida, na tristeza, na dor, nossa oração suplicante pede ser um cântico que brota de nossa alma com destino ao Coração de Deus. A oração sálmica era obrigação religiosa de todo judeu, assim como continua sendo hoje. O cristianismo adotou essa prática votiva e sempre incentivou os fieis católicos a recitarem a salmodia” (p. 7).

O Saltério à Virgem Maria é uma compilação de 150 salmos dedicados a Nossa Senhora. O seu autor, São Boaventura, nascido em 1221 e falecido em 1274, foi um franciscano da Ordem dos Frades Menores. Foi canonizado pela papa Sixto IV em 14 de abril de 1492 e declarado Doutor da Igreja pela Papa Sixto V, em 1588, sob o título de Doutor Seráfico.

Ao longo do livro de São Boaventura o leitor tem acesso a uma coletânea de cantos de uma beleza ímpar, enaltecendo sempre a figura de Nossa Senhora. No Salmo 132, exclama o autor:  “Vê quão bom e prazeroso, ó Maria, é amar teu nome. / Teu nome, àqueles que te amam, é como óleo derramado numa fragrância aromática. / Quão grande é a doçura, ó Senhora, que preparaste àqueles que amam e esperam em ti. / Que tu sejas um refúgio para o pobre em tribulação, pois és o cajado para o pobre e o oprimido. / Deixa, eu te imploro, encontrar graça diante de Deus os que invocam tua ajuda nas necessidades” (p. 149).

No Salmo 100, provavelmente um dos mais belos de todos, e, para mim, um dos prediletos, o inspirado frade franciscano enaltece a alegria de cantar para a Virgem: “Para ti, ó Senhora, cantarei a misericórdia e o julgamento, cantarei para ti com o coração alegre quando fizeres minha alma satisfeita. / Louvarei a ti e tua glória, e tu refrescarás minha alma. / Tenho zelado por teu amor e tua honra, assim, peço que defendas minha causa diante do juiz das eras. / Fui conduzido por tua bondade e graça, rogo a ti que minha esperança e confiança não sejam destruídas. / Fortalece minha alma em meus últimos dias, ó Senhora; que ainda em minha carne eu possa ver meu Salvador” (p. 111).

Para concluir, transcrevo o Salmo 108, em que o autor faz à Mãe do Redentor o oferecimento do seu belo Saltério: “Ó Senhora, não desprezes meu louvor; digna-te a aceitar este saltério dedicado a ti. / Olha pela vontade de meu coração e faz com que minhas afeições sejam agradáveis a ti. / Apressa-te em visitar teus servos; que sob a proteção de tua mão eles não sofram injúrias. / Que, através de ti, eles possam receber a iluminação do Espírito Santo e não serem atingidos pelo calor da cobiça. / Cure, ó Senhora, aquele que tem o coração contrito e revive-o com o unguento de tua piedade” (p. 118).

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

View All Articles