Com Francisco de Sales, tudo é possível.

André Ravier

[Ravier, André. Francisco de Sales: Um sábio e um santo. – 2ª. ed. – Coimbra: Edições Tenacitas, 2015, p. 166.]

Mais de um ano se passou desde que postei, neste blog, um artigo sobre São Francisco de Sales. Naquela ocasião, prometi que daria continuidade. Somente hoje, entretanto, cumpro a promessa. Desde então, algumas mudanças me aconteceram, fruto, sobretudo, do Curso de Pós-graduação em Mariologia, iniciado em julho de 2018 e concluído recentemente, no dia 15 de janeiro de 2020.

Ao longo desses dois anos, São Francisco de Sales esteve muito presente em minhas leituras e reflexões. Em diversas ocasiões recorri à leitura da sua biografia escrita pelo padre André Ravier, de onde extraí uma pequena citação para epígrafe deste artigo. Também, por mais de uma vez, consultei o volume das suas cartas. Em ambas as publicações, encontrei trechos que me têm servido como fonte de incentivo e conselho para prosseguir minha jornada em busca de uma maior consolidação da fé e do seguimento de Jesus Cristo.

Hoje, 24 de janeiro, dia em que a Igreja Católica celebra a memória deste santo, retomo a continuação da série de artigos iniciada em 2018. Com esse objetivo, ontem reli diversos trechos da biografia intitulada Francisco de Sales: Um sábio e um santo. São Francisco de Sales nasceu no dia 21 de agosto de 1567, na França, e faleceu em 28 de dezembro de 1622. Suas exéquias solenes foram celebradas no dia 24 de janeiro de 1623, e seu corpo enterrado na igreja do Mosteiro da Visitação, em Annecy.

Devido ao meu fascínio pela vida dos santos, frequentemente me ocorre pensar sobre a questão do anacronismo de sua mensagem. Isso acontece, especialmente, quando me deparo com santos cuja existência está separada de nós por um grande lapso de tempo. Até que ponto um santo que viveu há quatro séculos ainda é capaz de motivar, por meio de sua vida e mensagem, o homem e a mulher de nossos dias? Essa, seguramente, não é uma questão de somenos importância.

Em se tratando de São Francisco de Sales, passados quase quatro séculos desde a sua morte, fico impressionado com a atualidade da sua vida e mensagem. Não sei se o anacronismo estaria em mim, mas lendo sua biografia, o sinto tão próximo e tão necessário aos nossos dias, a ponto de interagir com ele como se estivesse tratando com um homem da atualidade.

São Francisco de Sales foi um exímio diretor espiritual, tendo sempre demonstrado um enorme afeto pelos seus dirigidos. Isso fica patente nas cartas a eles endereçadas, fossem religiosos ou leigos. Revelava, sobretudo, um cuidado todo especial em acolher de forma empática e afetuosa os que se consideravam irremediavelmente perdidos por seus erros e fraquezas.

Com relação a isso, no seu Memorial aos Confessores, escrito especialmente para os padres, dirá: “A responsabilidade dos pastores não é pelas almas fortes, mas pelas fracas e débeis. (…) Usai de grande clareza e pureza de consciência. (…) Desejai ardentemente a salvação das almas. (…) Tende a prudência do médico (…). Sede, sobretudo, caridosos e discretos (…). Quando encontrardes pessoas que, por pecados enormes (…) se mostram excessivamente assustadas e com grande peso na sua consciência, deveis aliviá-las e consolá-las por todos os meios, assegurando-lhes a grande misericórdia de Deus, que é infinitamente maior para lhes perdoar, do que todos os pecados do mundo para condená-los, e prometei-lhes que as assistireis em tudo aquilo de que tiverem necessidade de vós para salvação das suas almas” (Francisco de Sales: Um sábio e um santo, p. 143).

A certa altura da bela biografia aqui citada, ao tratar da devoção conforme entendida por São Francisco de Sales, o padre André Ravier afirma: “A devoção salesiana transfigura a vida” (p. 193). É essa transfiguração que tenho devotamente buscado em minhas orações dirigidas a esse afetuoso Doutor da Igreja que hoje celebramos.  

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

View All Articles