Eu penso que sou filho da misericórdia. Deus me escolheu para me tirar, como diz a Bíblia, do lodo, lá embaixo, e me colocar lá em cima, como Davi foi tirado do meio do gado para se tornar rei. Deus, nosso Senhor, teve muita pena de mim, porque minha infância, depois que mamãe morreu, não foi uma infância ideal para vocação. Era um moleque da rua, para falar a verdade mesmo! Até os onze anos era um moleque da rua, muito mal encaminhado, sem ter quem pudesse me colocar no bom caminho. São coisas mui tristes de minha vida. Um dia minha avó pegou uma medalha de Nossa Senhora Aparecida, pendurou em meu pescoço e disse: “Que essa mãe cuide de você!” E foi isso. Fui parar em Aparecida, entrei, sem querer, no seminário e aqui descobri aos poucos o ideal; resolvi ser padre. Mas foi misericórdia de Deus, muito Bom, porque eu aprendi a ter misericórdia.

Padre Vítor Coelho de Almeida

[Almeida, Vítor Coelho de. Os ponteiros apontam para o infinito: reflexões e catequeses. – Filho da misericórdia de Deus (Texto para programa da Rádio Aparecida, 1983). – Aparecida, SP: Editora Santuário, 2018, p. 17]

No dia em que a Congregação do Santíssimo Redentor completa 287 anos – fundada por Santo Afonso Maria de Ligório no dia 9 de novembro de 1732, em Nápoles, na Itália -, aproveito o ensejo para homenagear neste breve artigo um dos grandes missionários redentoristas a quem aprendi a amar e reverenciar nos dois últimos anos. Refiro-me ao padre Vítor Coelho de Almeida.

Eu jamais havia visto qualquer referência ao padre Vítor Coelho, até que fui a Aparecida, em julho de 2018, para o primeiro módulo do Curso de pós-graduação em Mariologia, promovido pela Academia Marial em parceria com a Faculdade Dehoniana de Taubaté. Procurando informações sobre a cidade, encontrei uma referência ao memorial Redentorista. Ocorreu-me logo o projeto de visitá-lo. Entretanto, por uma série de fatores, não foi possível fazê-lo. No semestre seguinte, quando estive em Aparecida para o segundo módulo do curso, aproveitei um tempinho livre, no sábado, para visitar o Memorial Redentorista. Ali deparei-me com a primeira referência ao padre Vítor, uma vez que lá se encontram tanto o seu túmulo quanto o orquidário do qual cuidava em vida.

Na ocasião, adquiri o livrinho Orar 15 dias com Pe. Vítor Coelho de Almeida: missionário redentorista. Trouxe, também, o jornalzinho Informativo Padre Vítor. Por meio dele, descobri que está em andamento o seu processo de beatificação. E também por meio dele, que passei a ler diariamente, fui aos poucos conhecendo melhor e ganhando alguma intimidade com o missionário redentorista. Ao mesmo tempo, compreendi porque ele foi cognominado  “Missionário de Nossa Senhora Aparecida”. Transcrevo, a propósito disso, um trecho do belo texto em que ele fala que foi achado por Nossa Senhora Aparecida:

“Quando eu era criança, bem pequeno, mamãe havia dado a mim uma medalhinha de Nossa Senhora Aparecida. Eu a carregava no pescoço. Um dia, na aula, meu professor, que era ateu, zombou da medalha, dizendo que eu carregava um cincerro. Cincerro é um sino que se dependura no pescoço do burro para ser madrinha da tropa. Além de zombar, ele chegou perto de mim e arrancou a medalha e jogou no mato, pela janela. Eu chorei muito e fui procurar a medalhinha que mamãe havia me dado. Nunca mais achei. Veja como é a vida. Agora eu estou aqui, debaixo de seus pés. Eu sou Missionário Redentorista. Havia também a promessa e o milagre onde papai me entregou para Nossa Senhora e eu vim parar aqui na cidade de Aparecida. Esta semana vou levar a imagem da mãe querida à minha cidade de Sacramento. Nunca mais achei a medalhinha. Mas Nossa Senhora me achou. Ela me tirou do lodo e me fez seu anunciador. Sou filho da misericórdia…” (Gilberto Paiva, C.Ss.R. Orar 15 dias com Pe. Vítor Coelho de Almeida: missionário redentorista. – Aparecida, SP: Editora Santuário, 2015, p. 35).  

O Padre Vítor foi, também, um grande comunicador, que soube usar os meios de comunicação, especialmente o rádio, para evangelizar. Manteve dois programas na Rádio Aparecida que marcaram época. Um levado, ao ar ao meio-dia, belamente intitulado “Os Ponteiros apontam para o Infinito”. O outro, “Consagração a Nossa Senhora Aparecida”, ia ao ar às 15 horas. Neste último ele disseminou a oração de consagração à Mãe Aparecida, ainda hoje rezada. Mas gosto mesmo é do título do primeiro. Pode-se pensar em título mais poético e mais motivador que “Os Ponteiros apontam para o infinito”? Todas as vezes que retornei a Aparecida durante este curso sempre fiquei hospedado num quarto do hotel de cuja janela vislumbro a Basílica em toda sua majestade. Sempre que o relógio badala as 12 horas, estando eu no quarto, corro para a janela e lembro: os ponteiros apontam para o infinito.

Foi a isso que o Padre Vítor dedicou com amor e muita dedicação sua vida: a nos lembrar que, assim como os ponteiros apontam para o infinito, que é Deus, Nossa Senhora nos aponta o caminho, Cristo, Filho Unigênito de Deus, nossa redenção. Como afirma Gilberto Paiva, também ele missionário redentorista, no maravilhoso livrinho acima mencionado:

“Seu ministério sacerdotal de mais de sessenta anos, quarenta deles ele os passou em Aparecida. Escrevia sobre a doce Mãe e seus milagres e, na Rádio Aparecida, durante trinta e seis anos, praticamente todos os dias, às 15 horas, rezou a oração da consagração com seus ouvintes. Consagrava-se a Deus pelas mãos e intercessão de Maria Santíssima. Mas Padre Vítor anunciava Jesus Cristo como a centralidade da fé e Maria, como a mãe amorosa que nos aponta seu Filho para que o ouçamos e o sigamos” (p. 103).  

Concluo essa singela homenagem ao meu querido Padre Vítor Coelho transcrevendo a oração recitada para pedir à Santíssima Trindade a sua beatificação. Saliento que a recito diariamente, e o resultado… ah, o resultado… Experimente por si mesmo e tire suas próprias conclusões.

Eis a oração:

Deus, Pai de bondade e misericórdia, que concedestes ao Padre Vítor Coelho o dom de anunciar a Palavra da Salvação com piedade e unção, concedei-me a graça de seguir seu exemplo de fé e de confiança na misericórdia de Deus e na intercessão de Maria, sua Mãe, para obter minha conversão pessoal.

Peço, ó Trindade Santa, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, a beatificação do vosso fiel servo, Pe. Vítor Coelho, para vossa maior honra e glória.

Peço-vos, ainda, com profunda fé e confiança, que me concedais, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida e de seu servo, Pe. Vítor Coelho, a graça particular de que tanto preciso (mencionar a graça desejada).

Por Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Amém.

Três “Glória ao Pai” e uma “Ave-Maria”.    

 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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