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livros

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Vasco Arruda

Certa vez, ao final de um show no bistrô que ficava dentro da loja Modern Sound, em Copacabana, fiquei escutando enquanto uma repórter entrevistava a grande cantora da bossa nova Leny Andrade. A repórter fez uma daquelas perguntas de praxe sobre se a cantora sentia algum nervosismo em dia de estreia etc., e Leny nem esperou que ela terminasse. Foi logo dizendo: “No instante em que piso no palco, estou segura. É como chegar em casa.”
Ao ouvir isso, lembrei-me de uma frase parecida que já ouvi de Ruy Castro, ao falar sobre como se sente dentro de uma livraria: “Tenho a sensação de que, ali dentro, nada de mal pode me acontecer. Eu me sinto cercado de amor.” Segundo ele, há uma explicação para isso: é que as pessoas que se envolvem com livros – escritores, editores, livreiros, compradores – são, em 90% dos casos, apaixonadas por leitura. Donde, os livros transpiram esse amor.
Heloisa Seixas
[Seixas, Heloisa. O prazer de ler. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011, Capítulo: Um lugar de amor, p. 37. – (Prazeres).]

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Vasco Arruda

Alguém disse: “Mawlana não fala”. Eu disse: “Foi minha imaginação que atraiu essa pessoa; minha imaginação não lhe diz: “Como vais?” ou “Como estás?” Ela a atraiu sem palavras. Se é dessa maneira que minha realidade atrai e conduz a outro lugar, o que há de espantoso nisso? A palavra é a sombra da realidade e seu complemento. Se a sombra atrai, a realidade atrai mais ainda. A palavra é um pretexto: o que faz uma pessoa ser atraída por outra é a afinidade que as une, não a palavra. Assistir a milhares de milagres e prodígios sem desfrutar dessa parte de profecia e santidade, de nada serve. É essa correlação que produz a febre e a inquietação. Se na palha não houvesse um pouco de âmbar, ela jamais se sentiria atraída pelo âmbar; ambos têm uma homogeneidade invisível e oculta.
Mawlana Rumi
[Jálál al-Din Rumi, Mawláná. Fihi ma fihi: o livro do interior. Tradução Margarita Garcia Lamelo. – Rio de Janeiro: Edições Dervish, 1993, p. 29]