Dona Dina começou sua vida de vaqueira aos 7 anos de idade. Ela ajudava o pai José Martins da Silva, que na época tinha mais de 100 cabeças de gado

A ex-presidente da Associação dos Vaqueiros de Canindé, Dina Maria Martins, é exemplo de coragem, luta e determinação. Esta mulher determinada, nascida na fazenda Barra Cancão, em Canindé, no ano de 1954, se transformou num símbolo vivo na defesa da vida do gado. Aos 14 anos, “encourada”, ajudava o pai na fazenda. Casou-se e continuou a lida. O marido (já falecido), conhecido como Fernando Martins, a estimulava a fazer parte desse cotidiano rico de mitos, histórias e aventuras.

Na década de 80, foi escolhida rainha dos vaqueiros e gravou para um documento sonoro da Funarte. Dona Dina Martins já presidiu a Associação dos Vaqueiros, Boiadeiros e Criadores dos Sertões de Canindé (Avaboc), entidade com mais de 200 sócios. Ela é um dos destaques da missa de São Francisco, quando aboia vestida como vaqueira.

É nessa guerreira, embalada pelo chocalho da rês e pelas histórias de encantamento, que os vaqueiros insistem em manter acesa a chama da bravura de quem gosta da vida do gado. Dona Dina Maria, hoje com 53 anos, 34 deles dedicado ao campo na companhia de vaqueiros em vaquejadas, missas, festa de apartação, foi a única mulher no Nordeste a presidir uma associação formada só por homens, todos eles dedicados à ações campestres onde se unem cavalo, gado e amor pela profissão, além de muito respeito à presidente.

Dona Dina confidenciou que tem seu corpo cheio de lesões, todas causadas por queda em animais. “Hoje estou com o joelho direito lesionado. Foi uma queda que levei de um cavalo. O cavalo caiu junto comigo e afetou minha perna direita. Nunca caí sozinha”, orgulha-se a guerreira do sertão.

A ex-presidente da Avaboc sempre diz que tem orgulho de morar em Canindé. “Pedaço de chão encravado no semiárido nordestino, onde uma categoria humilde que não gosta de brigas, cheia de força de vontade e acima de tudo muita paciência. Onde os vaqueiros ainda mantêm viva uma tradição de correr no mato todo encourado em busca da sobrevivência”.

Dona Dina começou sua vida de vaqueira aos 7 anos de idade. Ela ajudava o pai José Martins da Silva, que na época tinha mais de 100 cabeças de gado. A mãe Maria Olinda Marreiro ajudava na fabricação de queijo, além da distribuição de leite para a vizinhança. Dina cresceu, tomou gosto pelas festas de apartação, começou a participar e a se tornar atração nas vaquejadas quando derrubava o animal pelo rabo. A partir daí, tornou-se uma vaqueira respeitada.

Ela lembra que aos 14 anos, um vizinho perdeu uma rês, que se misturara ao gado dos Martins da Silva e mandou seus vaqueiros pedi ajuda: “O meu pai falou que só quem poderia ajudar seria eu. Selei o meu cavalo, vesti as perneiras e saí pelos campos da vida. Ao encontrar a novilha derrubei e a entreguei de volta ao seu legítimo dono”, narra Dina.

Segundo ela, não deu muita importância às narrativas de bois mandingueiros e cavalos misteriosos, das quais o sertão é pródigo. Histórias que eram contadas por seu avô, ela colocava na conta de fantasia. Afinal de contas, se tinha cavalo brabo ela montava, amansava, tudo isso ela fazia.

Em meio ao pai, dois irmãos vaqueiros encourados e muitos aboios, a menina cresceu. Hoje ela ainda lembra das imagens que povoaram sua mente de um sertão esturricado, porém de homens fortes e trabalhadores que ainda hoje montam encourados na busca real pelo reconhecimento.

Fotos e texto de Antônio Carlos Alves

Na última reportagem mostra que Dina Martins já ganhou o mais importante prêmio nacional da Cultura.