Para o cinema, a II Guerra Mundial começou com a entrada de Estados Unidos e União Soviética no lado dos aliados. O desembarque na Normandia no dia D, o cerco a Leningrado, o front oriental, ganharam vários filmes que tratam o conflito já como algo global. Antes disso, entre 1939 e 1941, o Velho Mundo se dividia entre os Aliados e o Eixo Roma-Berlim.

Clemmie (Kristin Scott Thomas) e Churchill (Gary Oldman)

O Destino de uma Nação, de Joe Wright, volta a 1940 e mostra como uma série de derrotas pôde ser revertida após o apoio de EUA e USSR. Anos antes de Winston Churchill, Franklin Delano Roosevelt e Josef Stalin colocarem as diferenças de lado e se unirem contra Adolf Hitler e Benito Mussolini, o Reino Unido via a ameaça nazista crescer. Enfraquecido, o conservador primeiro-ministro Chamberlain (Ronald Pickup) é obrigado pela oposição a renunciar. No lugar dele, ressurge uma das figuras mais controversas da Inglaterra: Winston Churchill (Gary Oldman).

Talvez pelo peso do personagem, o filme começa fugindo do personalismo. Logo no início, uma sessão no Parlamento sem a presença do futuro premiê, que “não queria suas digitais na arma”. Em seguida, parece que Clemmie (Kristin Scott Thomas), esposa de Churchill, vai roubar a cena. Mas, aos poucos, Joe Wright se entrega ao personalismo em uma obra visualmente impactante, mas narrativamente conservadora.

Elizabeth Layton (Lily James) e Winston Churchill

O Destino de uma Nação se constrói nas relações de Churchill com outros personagens. A evolução da intimidade dele com a secretária Elizabeth Layton (Lily James), aliás, serve de guia para a opinião do pública em relação ao novo primeiro-ministro. A frieza junto ao rei George VI (Ben Mendelsohn) e os conflitos com Chamberlain e o visconde Halifax (Stephen Dillane) dão o tom da obra.

Churchill é inegavelmente intimidador. A composição de Gary Oldman, cheio de nuances, deixa a figura ainda mais complexa e rica. Há ali o aristocrata, mas também um homem de guerra. Há ali um fracassado pela derrota na batalha de Galípoli, na I Guerra Mundial, mas alguém com orgulho da própria ousadia. E há um peso de um cargo que dobra até o mais forte dos homens. Gary Oldman absorve todas essas forças e, aliado à espetacular maquiagem, mostra uma figura fascinante, capaz de inspirar e causar asco ao mesmo tempo. É um homem de guerra com a oratória como a única arma.

O V da vitória de Churchill

Junte-se ao maniqueísmo da disputa com Halifax, que faz as vezes de um antagonista covarde, em vez de um idealista da sobrevivência, e a obra pende demais ao personalismo. Churchill é um herói de charuto na mão e de oratória impecável. O idealismo inspirador soa como bala mágica para resolver os conflitos.

Por mais que, narrativamente, o filme pareça demais com o lugar-comum das cinebiografias, o visual e o ritmo criado por um diretor da qualidade de Joe Wright (Orgulho e Preconceito/2005; Desejo e Reparação/2007) fazem com que a obra nunca seja entediante. De certa forma, O Destino de uma Nação dá todo o contexto para a batalha de Dunquerque, foco de Dunkirk (2017), de Christopher Nolan. Uma sessão dupla seria uma boa, com duas obras que focam a II Guerra Mundial antes de ela virar conflito global.

Cotação: nota 5/8

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André Bloc

Redator de Primeira Página do O POVO, repórter do Vida&Arte por seis anos, membro da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine).

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