Se há males que vêm para bem, o período turbulento por que o músico John Mayer passou lhe trouxe bons aprendizados. Depois de turnês desgastantes, problemas amorosos e a descoberta de granulomas na garganta, ele volta firme e vigoroso no disco Born and Raised. Apesar de ser um adepto de um soft rock mais radiofônico, em seu quinto disco ele bota o pé num terreno folk, country e faz 12 canções coesas e atraentes até para quem não é fino conhecedor da obra do rapaz.

A regra aqui é exorcizar antigos demônios. Embaladas num rico projeto gráfico com ares setentistas (assinado por David Adrian Smith), Born and Raised vem embebido em letras autobiográficas e sonoridades orgânicas. E tome gaita, violão, piano e uma guitarrinha pra apimentar. Logo na abertura, com Queen of California, fica claro que Mayer vive tempos de inspiração e calmaria. E, se a intensão é soar como uma obra folk, nada melhor do que convidar David Crosby e Grahan Nash para participarem da faixa título.

As influências de Joni Mitchel e Neil Young em Born and Raised são óbvias. A produção assinada por Mayer e Don Was (Rolling Stones e B.B. King) dá unidade às faixas que começaram a ser compostas antes da cirurgia para tirar os tais granulomas. Motivo que o deixa sem sobressaltos, pontos altos ou baixos. Repleto de sutilezas (Walt Grace’s Submarine Test, January 1967), delicadezas (Love is a verb) e bons arranjos (The age of worry), Born and Raised é um disco calcado num som que há tempos não é tão celebrado. Por isso, é para ser ouvido com cuidado, atenção e mais de uma vez.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles