Em 1985, Roberto Frejat pôs seus pés sob a imensa abóbada do primeiro Rock In Rio para anunciar um dia que nascia feliz para uma geração que comemorava o fim da ditadura brasileira. Na época, ao lado de Cazuza, ele formava uma dupla promissora, nos moldes de Lennon e McCartney, numa das bandas mais marcantes do rock nacional, gênero que estava ainda engatinhava por aqui. Apesar da esquisita combinação de camisa amarelo ovo com calça azul bebê, ele já mostrava na guitarra o estilo que consagrou no Barão Vermelho.

Passada a adolescência, a época das calças de couro e dos longos cabelos encaracolados, hoje Roberto Frejat é um jovem senhor de 50 anos, que há 11 mantém uma carreira solo cheia de sucessos que chegaram a rivalizar com sua antiga banda. Isso também é passado e hoje ele prefere manter o Barão em animação suspensa para seguir sua estrada como um trovador solitário. Segundo o próprio, a ideia é ser um novo Roberto Carlos, com canções pop simples que cheguem fácil no público. Quanto à moda, ele também deu um tapa no visual e, desde julho de 2010, prefere se apresentar dentro de um elegante paletó prateado e com os cabelos mais curtos.

Mas, calma, isso não significa que o barão perdeu a pegada roqueira dos Anos 80. Esse visual Frejat 5.0 é só a demonstração do envelhecer saudável do carioca. Isso ficou claro no show apresentado no palco do último Rock In Rio, no dia 1º de outubro de 2011. Comemorando os 10 anos (na época) de carreira solo iniciada com o disco Amor pra recomeçar (o primeiro de três), ele misturou uma pequena dose de ousadia com a certeza de jogo para consagrar seu caminho solitário.

Agora lançado em CD e DVD, o show do Rock In Rio foi um breve resumo da turnê A tal da felicidade, projeto de releituras variadas que Frejat toca desde julho de 2010. No melhor estilo “música pra pular brasileira”, a ideia é passear pelas referências históricas do músico, que vão desde os tropicalistas até o próprio rock nacional oitentista. A música que dá nome à turnê, por exemplo (mas que curiosamente ficou de fora do repertório desta apresentação), é um flerte de Gonzaguinha com a discoteca, já interpretado com personalidade pelas Frenéticas.

Cuspindo fogo com sua guitarra e fazendo suas já famosas caretas, Frejat gravou no novo disco 14 canções que mostram uma visão caleidoscópica da sua playlist. Tem uma inesperada Você não entende nada, de Caetano Veloso, e um pot-pourri envenenado com quatro sucessos de Tim Maia. E, para relembrar os heróis da própria geração, Ainda é cedo, da Legião Urbana. Certo de que sua própria história, também fundamental, merece ser contada em capítulos, ele segue uma trilha com Bete Balanço (uma das primeiras do Barão), Exagerado (Cazuza solo), Puro Êxtase (Barão pós-Cazuza) e Segredos (Frejat solo). Sem querer provar nada além de que a maturidade é um paletó confortável, ele convida o filho Rafael (15) para solar sua guitarra em Malandragem e Amor pra recomeçar, sob o olhar atento da mãe Alice Pellegatti.

O registro do show do Rock In Rio tem cerca de uma hora. Muito pouco para quem está ainda comemorando 30 anos de Barão Vermelho e 11 anos de carreira solo. Mas é o que tem pra hoje. Essa história continua com uma turnê comemorativa da sua antiga banda, a remasterização do disco de estreia de 1982 (com o acréscimo de faixas inéditas) e o retorno para a carreira solo. Vale acompanhar.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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