1911va0602Desde 2011, o Jota Quest vem viajando para comemorar seus 15 anos de banda. Apesar de formada em 2003, o tiro de largada foi dado três anos depois, com o disco que trouxe uma versão balançada de As dores do mundo, do soulman Hyldon. Esse trabalho de estreia, hoje meio apagado diante do que veio em seguida, acabou se transformando num subestimado corpo estranho dentro da carreira dos mineiros. Estavam ali boas influências do que há melhor na disco music mundial, como Earth, Wind & Fire e Chic. A faixa À tarde, por exemplo, é um dos melhores lados B daquela década.

No entanto, aquela mistura disco/ funky/ gospel, que foi bem medida na estreia, foi ganhando cada vez mais molho pop ao longo dos discos seguintes. De volta ao planeta (1998), disco seguinte, assim como abriu as portas dos grandes festivais, começou a diluir as ideias do trabalho anterior. Daí em diante, eles se mantiveram numa gangorra, que pendia, ora para um balanço contagiante, ora para os clichês da música de massa. O terceiro disco, Oxigênio (2000), é uma prova disso. Está ali uma deliciosa releitura de Um raio laser, hit de Baby (na época) Consuelo e Pepeu Gomes, ao lado de baladas ininteligíveis.

1911va0603Eis que chega 2013. Encerrada a turnê de 15 anos, que rendeu uma coletânea oficial e um CD/DVD ao vivo com várias participações especiais, eles lançam um sétimo disco de inéditas. Funky Funky Boom Boom foi anunciado como um retorno às origens da banda, à pegada black de sotaque setentista. A produção foi dividida entre Jerry Barnes (Stevie Wonder e Aretha Franklin), com algumas faixas co-produzidas por Adriano Cintra (Cansei de Ser Sexy) e Pretinho da Serrinha (Seu Jorge). Pra completar, marca presença o guitarrista Nile Rodgers, fundador do Chic, que já emprestou seu talento para Madonna, Daft Punk e muitos outros.

Pelo time, é possível perceber as boas intenções do Jota Quest para Funky Funky Boom Boom, mas o resultado é bem aquém do esperado. Começa que o disco em nada lembra o disco de estreia, bem mais enxuto e inspirado. Funky Funky Boom Boom lembra mais Discotecagem Pop Variada (2001), que, como os outros, mescla bons grooves funkeados com baladas de pouca inspiração.

Verdade seja dita: há muita alegria em Funky Funky Boom Boom, notoriamente feito para as pistas. A ótima faixa que tem apresentado o disco nas rádios, Mandou bem, tem um elegante ar retrô azeitado pela guitarra de Nile Rodgers. Ainda assim, as 15 faixas (Waiting for you vem em duas versões) acabam confirmando os altos e baixos da banda. Entre os baixos está a incapacidade de encontrar um caminho para o próprio som. São músicos competentes (com destaque para o baixo profundo de PJ), mas falta coragem para apostar em algo com mais personalidade.

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Outro ponto negativo são as letras, que continuam sendo feitas à base de clichês apaixonados (Um tempo de paz), aliterações incompreensíveis (Entre sem bater) e tentativas existencialistas (Pretty baby). Algumas composições de Funky Funky Boom Boom chegam a ser divididas por nove pessoas. Entre elas, novidades como Xande de Pilares e China. Ainda assim, o que se vê são os mesmos vícios que fizeram do Jota Quest o que eles são. “Você me conheceu assim. Tentar me mudar não vai fazer ninguém feliz”, é o que eles dizem em Imperfeito. Pois que tudo continue como sempre esteve.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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