Imagem tirada da capa do disco de Alano Freitas

Por Hamilton Nogueira

Conheci um Alano Freitas sem paciência, sem calma, sem modos. Foi numa tarde de sábado no Cantinho do Frango que me juntei à mesa do guitarrista Mimi Rocha, do jornalista Marcos Sampaio, dentre outros adeptos do pensamento de que “quem inventou o amor teve certamente inclinações musicais”. Ocupei inadvertidamente um lugar então meio vazio, talvez meio ocupado, marcado por um copo meio vazio, meio ocupado, por um talvez inofensivo suco avermelhado.

Natural pensar que aquele singelo copo de suco não pertencia a nenhum daqueles asseclas, dada a incompatibilidade notória com a preferência do grupo. Porém havia um dono sim, que fora ao banheiro, retornando irritado com a minha invasão e, sem dar chance para que eu consertasse o mal-entendido, sequestrou o copo abruptamente, insatisfeito.

“Peguei seu lugar?”. Já ocupando outro assento, respondeu com o silêncio a minha inútil tentativa de apaziguamento. Falando alto – aos gritos, na verdade -, teorizava a respeito da castração da humanidade, o quantum, histórias, passado, diabos e diatribes. Monólogo vai, monólogo vem, adquiri seu livro e seu CD.

Termino já essa história. Antes quero registrar que ainda não li o livro, mas ouvi repetidamente o disco de nome Quaisquer canções. Muito bem construído, rico, melódico. Pérolas como Vem, Gaivota na bela voz de Kátia Freitas e Acordes com Nilson Gondim. O jornalista Dalwton Moura diz a respeito Alano, “é um grande poeta e letrista. Fez uma versão belíssima de Round Midnight em português. É um grande artista visual também, um cara histórico”.

Pois bem, voltando à história: já de posse do disco, devidamente autografado, e do livro (Histórias do começo do mundo – 7 contos minúsculos), perguntei ao Alano se ele aceitaria receber de presente um livro meu, escrito há alguns anos. Queria tão somente presenteá-lo. Ele olhou um olhar azedo em direção ao além e disse, “Vou ver com minha filha se tenho algo para retribuir”. Já que o azedume estava estabelecido, bati de volta “quem disse que quero algo seu?”. Alano voltou a atenção do além para mim, foi para o além, para mim novamente e, com paciência, com calma e modos, soltou, “Gostei de você!”. Ficamos amigos.

Obs.: descobri depois que o suco era bento regularmente por doses generosas de aguardente.

Obs.: “quem inventou o amor teve certamente inclinações musicais”, frase de Geraldo Azevedo.

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Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

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