A história de vida e de arte do cearense Rodrigo Gondim é bem pequena. Ele nasceu em 6 de março de 1980, aprendeu cedo a gostar de música, começou a estudar guitarra violão e baixo, integrou diferentes cenas de Fortaleza e faleceu aos 28 anos, vitimado pela dengue. Em linhas rápidas, é uma biografia curta, mas foi suficiente pra deixar uma obra referencial e uma saudade sem tamanho entre os amigos.

É a partir desta obra e desta saudade que nasceu o show Tributo a Rodrigo Gondim, que será realizado esta noite no Theatro José de Alencar. A apresentação reúne uma turma de amigos que tocaram com o Gondim, como era mais conhecido, em diferentes projetos. O time de convidados reúne nomes como André Benedecti (bateria), Hermano Faltz (guitarra), Luis Hermano Bezerra (contrabaixo), Thiago Rocha (sax), Heriberto Porto (flauta), entre vários outros.

O tributo marca, ainda, o lançamento do livro e disco Ritornelo. O livro reúne 28 partituras de composições de Rodrigo Gondim, que estudou Música na Universidade Estadual do Ceará e estava planejando um mestrado na Unicamp. “Rodrigo estava se preparando para gravar e esperando uma vaga de mestrado em Música. Por conta disso, ele tinha deixado tudo organizado”, lembra Julianne Frenkiel, dona da escola Musiqueria e viúva de Rodrigo. Além das partituras, o livro traz fotos e depoimentos de amigos como Felipe Cazaux, Marcelo Holanda, Marcos Maia e Daniel Groove.

Nove dessas partituras estão executadas no disco que integra a homenagem. Registrando a parte jazzística das composições de Rodrigo, o trabalho teve à frente o amigo e saxofonista Bob Mesquita. “Tinha num universo de 30 músicas, mas optamos pelas que sabíamos que ele colocaria no disco. As partituras já estavam feitas, ele era muito caprichoso”, comenta o músico que dividiu com o homenageado o projeto Jazzen. “Ele era um compositor extremamente versátil. O disco tem um afoxé, trechos de rock, duas valsas. Outra coisa marcante dele é que é contemporâneo. As últimas composições tem muita coisa brasileira, embora as harmonias não fossem muito de bossa nova”.

Essa versatilidade de Rodrigo Gondim é uma das características mais celebradas entre os amigos e faz mais sentido quando se conhece os diversos projetos que ele integrou. Além do Jazzen, teve a banda de metal Dreamatory, a Double Blues e a banda de rock O Sonso. “Ele foi o cara que me ensinou a compor, a tocar, a saber até onde posso ir e aonde posso chegar de acordo com as minhas decisões musicais. Foi um verdadeiro amigo em muitas horas e eu sinto muito a falta dele. Tivemos muitos momentos massa”, lembra Felipe Cazaux, parceiro de Double Blues.

“Uma coisa que bateu logo de cara é que ele curtia de tudo. O papo ia de Miles Davis a Celly Campello, passando por Aldo Sena. Viramos parceiros de vida”, comenta o músico Herlon Robson, com quem Rodrigo dividiu muitos bailes na noite de Fortaleza e chegou a gravar composições para dar origem ao seu primeiro disco. “No meio do processo, ele morreu. Ficaram vários takes no computador e que eu fiquei dois anos sem conseguir nem tocar. Em 2010, eu finalizei o disco Canções para Luíza. Legal que são as performances dele, embora que não sejam as definitivas”.

Os músicos à frente do disco Ritornelo: André Benedecti (bateria), Iury Batista (contrabaixo), Stenio Gonçalves (guitarra e piano), Hermano Faltz (guitarra) e Bob Mesquita (saxofone e direção musical). Foto: Luiz Alves/ Divulgação

Bob Mesquita lembra da última vez que esteve com Gondim, num show que foi encerrado com Mr. Rod, uma homenagem ao amigo que faleceu três dias depois. “Ele já mostrava fragilidade e disse que estava com virose”, conta o saxofonista. Para Julianne, esse é o melhor momento de dividir essas homenagens ao guitarrista com quem ela também dividiu uma vida. “É um sentimento diferente. É um assunto muito difícil. Se fosse outro momento, seria complicado. Mas penso que, agora, não é hora de tristeza. O meu maior sentimento é de saudade e de usar essa obra. Divulgar, difundir para as pessoas que não conheceram”, celebra.

Serviço:
Tributo a Rodrigo Gondim
Quando: hoje, 19, às 20 horas
Onde: Theatro José de Alencar (r. Liberato Barroso, 525 – Centro).
Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Disco – R$15; Livro – R$50; Disco + livro – R$60
Outras informações: 3101 2566

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles