Angélica Freitas é uma das escritoras mais potentes da atualidade. Versátil, perceptiva e atenta aos pequenos detalhes do cotidiano, ela alcançou projeção nacional com o livro Um útero é do tamanho de um punho. Sábado, 30, ela participa de dois eventos em Fortaleza. Na programação da Festa Literária 7, a Fli7, Angélica fala aos lados dos poetas Talles Azigon e Nina Rizzi sobre “Para que poesia em tempos de penúria”. Mais tarde, às 18h30min, a poeta pisará no Jangurussu para participação no Sarau da B1, um dos coletivos de literatura mais atuantes de Fortaleza. É a primeira vez que Angélica irá a um sarau na periferia.

“Eu acho que a escrita de um poema pode surgir por causa de diversos fatores. Por exemplo, o fato da gente ouvir uma frase na rua. Ou mesmo dizer alguma coisa. O fato de refletir sobre um assunto, sobre um tema, e sentir necessidade de dizer algo sobre aquilo. E mesmo de comunicar algo e perceber o mundo. Então, muitos poemas que eu escrevi têm isso”, diz.

Angélica Freitas (foto: Bianca de Sá/divulgação)

E essa é a escrita de Angélica: pautada em insignificâncias e aleatoriedades do cotidiano, mas cheia de força e potência. Partindo de elementos simples, ela consegue desdobrar sentimentos e criar imagens. Ela cita como exemplo o texto feito a partir de uma faixa vista na rua: família vende tudo. “Fiquei pensando como seria se uma família resolve vender tudo – até os membros da própria família. Desde os móveis até o cachorro! E fiz um poema sobre isso”, explica a escritora, que também tem na bibliografia os livros Guadalupe (2012, Companhia das Letras) e Rilke Shake (2007, Cosac Naify).

Seu livro mais famoso, Um útero é do tamanho de um punho, partiu de uma série de inquietações – sobre o espaço, sobre a condição feminina, sobre as construções coletivas. “Eu, como leitora, tinha vontade de ler poemas sobre o que é ser mulher. E não achava na poesia contemporânea brasileira. Sentia necessidade”, explica Angélica, que enxerga na poesia formas de investigação. “A poesia é um gênero que dá muita liberdade para pensar, para escrever de formas não convencionais”, pontua.

“E eu decidi, então, por meio dessa via dos poemas, investigar o que é, afinal, ser uma mulher. Meu segundo livro já é diferente. Não é a coisa de ouvir na rua, é mais de uma recepção sobre a mulher e também como poeta, de ver o que eu poderia fazer, me propondo a escrever sobre mulheres. Que tipo de poemas eu poderia fazer a partir da minha própria vivência como mulher. Isso pode parecer óbvio, mas as nossas experiências, de sair na rua, por exemplo, são diferentes do que ter um corpo de homem. As nossa experiências de sair da rua e ir no mercado é diferente de ter um corpo de homem. Acontecem com a gente de forma bem diferente. As pessoas têm outras expectativas e se comunicam de forma diferente por serem mulheres. E a gente escreve a partir dessas experiências”, pontua.

Conheça Angélica Freitas

O livro mais famoso de Angélica Freitas, Um útero é do tamanho de um punho dá as lições que propõe para o machismo e a misoginia. “A origem desse título é das pesquisas. Quando eu estava me preparando para escrever, comecei a pesquisar para descobrir mais sobre o corpo da mulher. Cheguei a um site onde era explicado que o útero é do tamanho de um punho fechado e na gravidez vai se expandindo”, explica a poeta, reforçando que a imagem do punho foi utilizada por movimentos como as Panteras Negras, nos Estados Unidos. “E o punho fechado é a imagem do feminismo, como imagem de luta. E também eu nunca tinha pensado nessa imagem do útero como uma coisa de força mesmo. Força da mulher”, diz.

A imagem, ela conta, trouxe uma iluminação. Com o semblante do punho na mente durante vários dias, ela buscou o processo de escrita e fez cinco páginas em poucas horas. “Saiu esse poema que titula o livro. Acho que é uma imagem que reforça a força feminina”, aponta.

Serviço
Sarau da B1
Onde: pracinha da B1 – Conjunto São Cristovão (avenida Bulevar I, 121 – Jangurussu)
Quando: sábado, 30, a partir das 18h30min
Entrada gratuita

Fli7 – Roda de conversa: “Pra que poesia em tempos de penúria?” com Angélica Freitas, Nina Rizzi e Talles Azigon
Onde: Uni7 (avenida Alm. Maximiano da Fonseca, 1395. Eng. Luciano Cavalcante)
Quando: sábado, 30, às 15h30min
Entrada gratuita

 

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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