Meu artigo publicado na edição de hoje (21/11/2013) do O POVO.

Justiça ou sensacionalismo?
Plínio Bortolotti

Independentemente do entendimento que se tenha sobre o resultado do julgamento da ação penal 470, apelidada “mensalão” – se foi justo ou injusto, se pautado pelos códigos ou se atingiu as franjas da ilegalidade – diverge-se pouco quando se lembra que o veredito dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) constituiu-se o chamado “ponto fora da curva”.

Constato isso sem emendar nenhum tipo de um juízo de valor, pois o resultado do julgamento tanto pode ter corolário positivo quanto negativo. Positivo, se houver aumento do rigor judicial contra a corrupção, seja com dinheiro público ou privado; seja caixa 2 ou outro tipo de falcatrua. Negativo, caso se configure a excepcionalidade do ato, como uma ação “exemplar” e única. Se for assim, por óbvio, não haverá consequência civilizatória nenhuma para corrigir os maus costumes políticos, disseminados democraticamente entre todos os partidos.

Porém, fora de qualquer razoabilidade, é a espetacularização promovida pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa. Ele vem operando como alguém interessado em uma possível candidatura, em detrimento dos interesses da Justiça e da preservação dos direitos daqueles que o próprio tribunal condenou. Agindo com uma espécie de Juiz Dredd, Barbosa não oferece justiça, mas vingança, linchamento. As “massas” o aplaudem, porém é sempre bom lembrar: atitudes assim costumam ser chocadeiras do ovo da serpente.

Se tivermos Barbosa candidato, esperem um novo Collor – desta vez sob a capa de “caçador de corruptos” – um sujeito arrogante, cheio de si, pretensioso, com desprezo pela institucionalidade – e com inclinação para assumir as famosas palavras: “O Estado sou eu”.

PS. Diferentemente do que escrevi no artigo da semana passada, a sonegação fiscal no Brasil é de 280 bilhões de dólares ao ano, e não “milhões”, como anotei.. Agradeço ao leitor Eduardo Araújo, que observou o equívoco.

Tagged in:

,