Em Maria refulge a condição do perfeito discípulo de Cristo. As categorias que ilustram a relação Maria-Igreja podem ser sintetizadas na comunhão e na exemplaridade: com e como Maria a Igreja crê, espera, ama, celebra, vive o mistério de Cristo, rumo à plena participação ao Reino dos céus.

Corrado Maggioni

[Maggioni, Corrado. Verbete: Maria, p. 1031. Em: Sodi, Manlio e Triacca, Achille M. (orgs.) com a colaboração de 195 peritos. Dicionário de Homilética. Apresentação de S. Emª. o Cardeal Silvano Piovanelli, Arcebispo de Florença; prefácio de Sergio Zavoli, Jornalista e escritor; tradução Orlando Soares Moreira e Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Paulus: Loyola, 2010.]

Vejo a religião católica como um grande projeto iniciático. O catolicismo é tanto uma religião de mistérios quanto de sinais. A história da encarnação de Jesus Cristo pode ser toda contada na perspectiva de um grande mistério. Para quem assume o catolicismo como religião, o convite que lhe é feito é que aceite a proposta de viver, já a partir do batismo, um projeto de vida que tem Cristo como protótipo e modelo do herói a ser seguido e imitado.

Esse seguimento requer do neófito – uso aqui essa palavra para denominar o crente, em analogia com as religiões e sociedades ditas de mistério ou iniciáticas – que se imbua do sentido do projeto que assumiu. É claro que no batismo isso não pode ainda ser feito com a anuência do sujeito, posto que tal rito, no caso, seja celebrado numa idade em que a criança não tem ainda consciência de si, não podendo, portanto, aquiescer espontaneamente. Isso, entretanto, deverá acontecer mais tarde, na adolescência, quando da participação em outro rito, o do crisma, que também é chamado, por isso mesmo, confirmação.

Parece-me, portanto, que uma vez ratificada a anuência do sujeito em fazer parte daquela comunidade de crentes, digo, a Igreja, está ele agora em condições de iniciar o grande projeto espiritual da sua vida, que se estenderá por muitos anos, até a maturidade, quando, então, será consolidado.    

Penso que a maioria dos católicos não tem consciência disso, digo, desse grande projeto que se descortina para si quando assume esse credo como a sua religião. Se o tivesse, sua religiosidade seria seguramente vivida de forma muito mais convicta e emocionante.

Sim, isso mesmo, emocionante, pois percorrer um itinerário espiritual, seja ele qual for – isso vale não só para o catolicismo, mas para a maioria das religiões, pelo menos das grandes religiões -, implica, antes de tudo, experimentar a grande emoção de se ver imerso no universo fabuloso dos grandes mistérios.

Essa iniciação aos mistérios que a religião católica oferece aos seus crentes pode se dar de muitas formas. As variações decorrem das características de personalidade de cada pessoa. No meu caso, tenho sido conduzido nessa grande aventura pelos santos dos quais sou devoto, a maioria deles místicos. Sinto uma afinidade muito grande com a literatura mística, o que me faz ver um guia em cada místico que encontro pelo caminho.

A par dos místicos, porém, tenho sido também especialmente auxiliado por outro guia que tem se revelado de inestimável valor para mim. Refiro-me a Nossa Senhora, que para a grande maioria dos católicos é a grande mediadora.

Desde criança estabeleci uma relação de muita confiança para com Maria. Essa relação foi se solidificando ao longo das décadas, e a medida que eu me aprofundava na experiência do  mistério da encarnação de Cristo, aquela que foi escolhida para recebê-lo em seu útero e dá-lo ao mundo foi também se impondo como a minha grande e mais importante mediadora na caminhada em direção ao Mestre.

Não tenho dúvidas da veracidade das palavras de Corrado Maggione quando afirma que “Em Maria refulge a condição do perfeito discípulo de Cristo”. De minha parte, não posso nem de longe me dizer ainda um perfeito discípulo de Cristo. Entretanto, mesmo com a minha absoluta imperfeição, ainda assim ouso me afirmar um discípulo do Mestre. E nesse projeto de discipulado, meu modelo maior tem sido a Virgem Maria, pois é mirando-me nela que sigo crendo, esperando, amando, e celebrando a experiência de viver o mistério de Cristo rumo à Parusia.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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