Indo adiante, viu Jesus um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me”. Este, levantando-se, o seguiu.

Mt 9,9

Que coisa estranha! Coisas estranhas acontecem a nós, humanos; coisas que não sabemos como explicar. Mas acontecem. E temos que fazer algo com essas coisas, quando elas acontecem. Temos que lhes atribuir um sentido. Porque tem que haver um sentido plausível para tudo o que nos acontece, inclusive para as coisas estranhas. Estou sendo deliberadamente repetitivo. Porque uma coisa muito estranha me aconteceu; tão estranha, que insistir na sua estranheza nunca será demais. E ao escrever este texto, neste exato momento, mais um fato estranho me aconteceu. Que maravilha!

O estranho a que me refiro aqui são algumas sincronicidades verificadas nos últimos quinze dias. Há muito me habituei a eventos sincrônicos, e não deveria mais me maravilhar tanto quando eles me acontecem. Ocorre, porém, que há ocasiões em que eles são tão perfeitos, se encaixam tanto, sucedendo-se de forma absolutamente encadeada e numa sequência tão clara e nítida, que é impossível não se maravilhar.

Parece-me que quando eventos assim se sucedem reiteradamente num pequeno espaço de tempo é um indício de que a pessoa que os vivencia está passando por um momento muito singular na sua vida. Isso acontece com maior frequência quando uma transformação está em curso, uma mudança de perspectiva em relação à qual a pessoa não tem ainda muita clareza, muita convicção, precisando, portanto, de alguns sinais.

No caso, tais sinais desempenham duas funções muito importantes e necessárias. Primeiro, eles fazem ver se estamos seguindo a trilha correta, especialmente quando está envolvida uma escolha, uma opção de vida. Segundo, eles indicam por onde devemos seguir, que atitudes adotar, em suma, como agir para que cheguemos à meta almejada.

A dificuldade dos sinais, em certas circunstâncias, reside na constatação de que eles são quase sempre passíveis de interpretação. Isso quer dizer que nem sempre sua mensagem é clara e precisa. Em contrapartida, quando isso acontece – ou seja, se a mensagem ainda nos parece um pouco dúbia, nebulosa -, ocorre eventualmente de sermos agraciados com sinais adicionais que confirmam, às vezes, com uma clareza cristalina mesmo, o sentido do ou dos anteriores. Quando isso se verifica, só nos resta agradecer por tanta generosidade, e seguir o itinerário sugerido pelos sinais.

Tenho observado, por experiência própria, que tanto a clareza quanto a frequência dos sinais crescem na proporção direta do nosso envolvimento e da profundidade e sinceridade de nossa busca. Se estamos verdadeiramente imbuídos de um objetivo, decididos por uma meta, basta nos mantermos firmes, resolutos e atentos aos indicativos, pois eles logo começarão a se fazer notar.

Um detalhe importantíssimo, porém, deve ser mencionado: é preciso ter cuidado para não perdermos a oportunidade que nos está sendo oferecida. Às vezes Deus acena para nós com um chamado, com um convite, como a dizer: Vem! Nem sempre, porém, temos a disponibilidade necessária para seguir o chamado. Uma coisa, porém, posso lhes assegurar: vale a pena tentar. Se você sentir que está sendo chamado, vá, não vacile por um minuto sequer. E apenas aguarde os resultados, pois eles não tardarão a se fazer notar.

Há uma obra – opus – a ser realizada. Mãos à obra, pois.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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